Ainda aliado de Dilma, Ciro foi quem propôs impeachment de Dilma, diz Eduardo Cunha
'Ciro disse que poderia, sim, apoiar o impeachment, caso Temer quisesse ser presidente', afirmou Cunha.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, lançou no último sábado, 17 de abril, o livro Tchau, querida – O diário do impeachment, escrito em parceria com sua filha, Danielle Cunha, e que revela o que seriam os bastidores do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Na obra, o ex-deputado federal cita os grandes articuladores da deposição de Dilma, e inclui na lista o senador Ciro Nogueira (Progressistas).
No livro, Cunha afirma que no final de agosto de 2015, quando cumpria agenda em Nova York em um evento da ONU, encontrou-se em um jantar com Ciro Nogueira e os deputados Átila Lins, Júlio Lopes, Maurício Quintella e Dudu da Fonte. “Esse jantar ficou marcado pelo início da grande reviravolta no processo de impeachment por parte do PP e do PR, cujas atribuições de cooptação para a tese estavam a meu cargo”, diz o ex-deputado na página 576.
Ou seja, Eduardo Cunha tinha ficado com a missão de conquistar o apoio de Ciro e do PP, além de mais outros nomes. “Sem o apoio deles não haveria possibilidade de aprovação da abertura do processo”, declarou Cunha no livro.
Ciro Nogueira: “Não se tira presidente, se coloca presidente”
De acordo com o ex-presidente da Câmara, Ciro Nogueira, no jantar citado acima, disse uma frase que seria a síntese do segredo para aprovação do impeachment: “Não se tira presidente, se coloca presidente”.
Para Eduardo Cunha, a leitura do senador piauiense era a mais acertada. Segundo o ex-deputado, Ciro Nogueira dizia naquele momento que o impeachment não iria passar enquanto o discurso não evoluísse para além da destituição de Dilma Rousseff.
“Enquanto a discussão ficasse em tirar a Dilma, não passaria; mas se a discussão fosse a substituição de Dilma por Temer, dependendo da articulação dele, poderia passar. Ciro disse que teria de ocorrer exatamente o que tinha ocorrido mais de 20 anos atrás, senão o impeachment não passaria. Ou seja, o processo não tratava de uma ação para retirar um presidente ruim ou que tinha cometido crime de responsabilidade. Mas, sim, como se fosse um voto de desconfiança do parlamentarismo, onde o governo cai e um novo gabinete é formado para atender às condições políticas daquele momento”, diz outro trecho do livro de Eduardo Cunha.
Michel Temer
O ex-presidente da Câmara revelou que foi Ciro Nogueira quem alertou que Michel Temer deveria começar a se movimentar imediatamente. “Ciro disse, sem contestação dos demais, que poderia, sim, apoiar o impeachment, caso Temer quisesse ser presidente e assumisse os custos dessa composição política. Do contrário, não teria o impeachment. A partir daí, eu me convenci de que o impeachment só passaria se Temer saísse da posição de espectador, esperando na fila, para a posição de quem queria assumir a Presidência”, afirmou Eduardo Cunha em seu livro.
Ciro deu ultimato aos membros do PP
Ainda no livro, o ex-deputado diz que o senador piauiense ameaçou expulsar do Progressistas todos aqueles que fosse contra o impeachment. “Ciro Nogueira fez a reunião da executiva nacional do PP e anunciou que expulsaria do partido aqueles que votassem contrários ao impeachment”, relatou Eduardo Cunha.
Prisão
Eduardo Cunha foi preso em 19 de outubro de 2016 pela Polícia Federal pela operação Lava Jato, e em março de 2017 foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Em março de 2020, ele teve a prisão preventiva convertida em domiciliar, por conta da pandemia da covid-19.