Política

Genro de Mão Santa invade e se apropria de ponto turístico em Luís Correia

Porto de Areia está cercado e com placa de propriedade privada. Terra é da União

O empresário Luís Neto, ex vice-prefeito de Luís Correia, no Litoral do Piauí, alvo de várias operações que envolvendo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), em diversas oportunidades, está sendo acusado por nativos de continuar se apropriando de terras da União na região da Praia do Macapá/Maramar.

De acordo com áudios, fotos e documentos obtidos pela reportagem do El Piauí, Luís Neto estaria, inclusive, derrubando cercas e ‘roubando’ estacas de alguns terrenos na localidade conhecida como Porto de Areia, região descoberta recentemente e que tem chamado atenção de turistas por conta das belezas naturais. O intuito seria de tomar para si uma região que é habitada pelos nativos.

“Quando eu vinha descendo para Parnaíba eu vi o Luís Neto em uma Montana preta carregando umas estacas. Tu achas que é tuas estacas não, lá da Zubaia? Tem que olhar, ele passou entre 6h30 e 7h. É bom dar uma olhada, ele andava com uma estaca finas na carroceira. Luís Neto é cruzeta”, disse um morador.

Para ludibriar os moradores, Luís Neto está cercando um trecho de 1.154.488,69 m². Na mão, ele carrega e apresenta uma Certidão de Aforamento e Ocupação, que estaria lhe garantindo autoridade para explorar a terra. Segundo o suposto documento, o atual responsável pela área seria a Maricultura Macapá Ltda., empresa da qual é sócio majoritário.

“Certifico que nesta, sob Regime Imobiliário Patrimonial (RIP), em epígrafe, está inscrito MARICULTURA MACAPA LTDA como ocupante do terreno da União acima caracterizado”, diz o documento. Contudo, o documento consta que o imóvel ao qual se refere está situado no Povoado Camurupim, zona rural do município.

Assim que descobriu o potencial de exploração da terra, o empresário tratou de cercar parte da área do Porto de Areia e colocou uma placa indicando que seria uma área particular e que seria proibida a entrada de pessoas não autorizadas.

“Eu não entendo o motivo desse rapaz brigar tanto por esse Porto de Areia, se ele nem conhecia, ele nem daqui é. Espero que ele coloque a mão na consciência e durma tranquilo sem mexer na gente. Dionísio criou os filhos dele ali e nem direito a puxar energia eles tiveram porque esse rapaz não deixou”, lamentou uma das moradoras.

Luís Neto diz que área foi comprada por uma de suas empresas Foto: Arquivo Pessoal 

 

MARICULTURA COMPROU POR MIXARIA

Em um em dos áudios obtidos pela reportagem, Luís Neto diz que a terra foi comprada pela Maricultura Macapá junto à empresa Salbras. No documento apresentado por ele, mais uma vez trata-se da terra localizada no Povoado Camurupim, com dimensão de apenas 130.02.03 has. Para aquisição, ele teria pago a bagatela de apenas R$ 24.400,00, fora da realidade para áreas de praia.

Um documento de Registro de Imóveis apresentado por ele foi conseguido através do Cartório Francisco Pereira, de Luís Correia. O mesmo foi declarado vago em 2019, quando o Tribunal de Justiça através do presidente, desembargador Sebastião Martins afastou os tabeliões.

Segundo o TJ, o cartório constava como função de permuta irregular entre seus delegatários. Francisco Pereira Neto e Manoel Barbosa do Nascimento Filho eram titulares, respectivamente, do cartório de Luís Correia e Barro Duro, tendo efetuado permuta sem a realização do devido concurso de remoção.

“A beira do Mangue é da União. No caso do Porto de Areia é todo em nome da empresa cedido pelo RIP de ocupação do Patrimônio da União, em nome da empresa Maricultura Macapá, que me pertence”, disse Luís Neto.

“Compramos isso, não foi dado, foi comprado pela Maricultura Macapá em 2011, pela empresa denominada Salbras e transferido o domínio pra gente”, reforçou.

“Eles querem dar um manto de legalidade nessas terras, através de documentos que foram expedidos pelo próprio cartório para poder revender essas terras”, disse o promotor Rômulo Cordão, coordenador do Gaeco à época.

Uma das moradoras da comunidade Macapá informou que muitas famílias residiam no local que está sendo invadido. Segundo ela, desde os sete anos de idade, seu pai já residia no local e ao longo do tempo acabaram sendo expulsos pelos posseiros de forma ilegal.

Porto de Areia Foto: Arquivo Pessoal

 

“Quando chegou no Macapá aos 8 anos meu pai entrava na mata, no rio. Aqui era lugar da casa da minha avó, do meu tio. Ele conhecia tudo. Foi nascido e criado aqui. Agora me dar uma tristeza, um lugar tão belo sendo destruído pelas pessoas”, argumenta.

Em contraponto, Luís Neto disse que jamais o trecho foi habitado. Segundo ele, somente uma família residiu no local. “Só quem morou lá foi seu Dió, não tem outro, não tem uma casa, só a do seu Dió, da família dele. Só tem esse”, rebateu.

CARTÓRIO NA MIRA DO TRIBUNAL DO JUSTIÇA

O signatário do Cartório Francisco Pereira, Manoel Barbosa, é um dos investigados pelo Ministério Público no âmbito da operação Terras Nullius, que apura esquema de grilagem de terras no Litoral do Piauí.

Luís Neto possui estreita relações com os signatários do cartório e também foi alvo da operação. Na ocasião, ele conseguiu fugir antes da polícia chegar em seu apartamento na zona Leste de Teresina.

“Luís Neto tinha trânsito muito grande dentro da Polícia Civil. Tanto que ficou constatado que o delegado anterior, que presidia a investigação acerca dessas milícias e dessa grilagem, foi transferido abruptamente para outra cidade enquanto um delegado escolhido pela organização criminosa seria o responsável por tocar o inquérito policial e fazer a vontade desses malfeitores, de levar a investigação para o arquivamento”, explicou o promotor Rômulo.

O ex vice-prefeito de Luís Correia é casado com a delegada Cassandra Moraes Souza, filha do prefeito de Parnaíba Mão Santa. Um de seus irmãos, conhecido como Mão santinha, é sócio de Luís Neto em algumas empresas, assim como Cassandra.

Luís Neto e a esposa Cassandra Moraes Souza Foto: Arquivo Pessoal

 

“O que a gente evidenciou foi a existência até de uma milícia atuando no local”, disse o promotor Rômulo Cordão. Os policiais militares envolvidos no suposto esquema foram alvo da operação “Sal da Terra”, deflagrada simultaneamente à operação Terra Nullius. Eles foram identificados como Valdeci Galeno e Dwan Rodrigues.

Segundo a Polícia Civil, Luís Neto é suspeito por grilagem de terras, organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção, fraude processual e falsidade ideológica.

MORADORES DENUNCIAM ESQUEMA COM PROVEDOR DE INTERNET

Os moradores do Povoado Macapá registraram denúncia na Superintendência da Polícia Federal em Parnaíba, alegando que há um suposto esquema envolvendo Luís Neto e uma empresa de internet fibra ótica (It Net). Eles estariam atuando de forma ilegal e criminosa.

Fio corta o mangue Foto: Divulgação

 

“Eles instalaram um cabo de fibra ótica, à uma altura, de aproximadamente 3 metros, cortando verticalmente o Rio Camurupim, o que dificulta e impede a passagem de embarcações, principalmente pescadores nativos. O fio sai da comunidade Macapá e segue até Barra Grande. A comunidade está revoltada com a situação, principalmente por não saberem se é de fato um fio de internet ou de energia elétrica”, diz trecho da denúncia.

Alguns moradores atribuem as constantes quedas no fornecimento de energia elétrica na comunidade Macapá a esse fato.

“Não conheço o provedor de internet. O fio passa dentro da área que eu ocupo. Um dos proprietários me pediu autorização por telefone e eu dei, para que eles usassem meus postes. Nem internet eu uso. Liberei a terra e os postes. Não tem crime nenhum nisso”, argumentou.

Aos leitores do El Piauí que quiserem formalizar denúncias ao Ministério Público Estadual ou à Polícia Federal, seguem os contatos: Ministério Público do Estado do Piauí (86)3216 – 4550/(86)3194 – 8700/pgj@mppi.mp.br. Polícia Federal em Parnaíba: Av. São Sebastião, 2055 – Fátima, Parnaíba – PI, 64202-020 / (86) 3321-2840.

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