Casal é mantido em cárcere privado e obrigado a penhorar bens em motel do Grupo Franly
Vítimas apresentaram comprovante de pagamento e mostraram o extrato no aplicativo do Banco do Brasil para funcionárias e para a Polícia Militar. Empresa e mais duas funcionárias serão denunciadas na Justiça
Em relato exclusivo ao Portal El Piauí, um casal que pediu sigilo de sua identidade, contou que ficou mantido em cárcere privado e obrigado a penhorar bens para conseguir sair do Sey Lá Motel, localizado na Avenida Presidente Kennedy, no bairro Mirante dos Morros, na zona Leste de Teresina.
O episódio foi registrado na madrugada de sábado (04). De acordo com o homem de 27 anos, de iniciais S. S. J., e a mulher R. B. Mazzerine, de 25 anos (nomes fictícios), tiveram que acionar a Polícia Militar para que uma funcionária do motel pudesse liberar o casal. Entenda a seguir como se deu toda a confusão.
DO AMOR AO ÓDIO
O que seria mais uma noite de amor e prazer para o jovem casal, terminou sendo uma noite de terror, medo, constrangimento e humilhação. S. S. J. entrou em contato com o El Piauí na manhã deste domungo (05) e relatou como tudo ocorreu. Segundo ele, o casal chegou ao Sey Lá Motel por volta das 22h da sexta-feira (03), e ficaram no quarto de número 104.
Lá, o casal não usou nenhum dos produtos ofertados. Por volta das 0h40 do sábado (04), o casal estava pronto para sair da unidade, quando foi solicitada a conta do quarto. O valor total foi de R$ 85,00. S. S. J. pediu que a responsável pelo atendimento apresentasse uma máquina para que o pagamento fosse efetuado. Segundo ele, o pagamento foi feito na modalidade débito. O valor foi debitado imediatamente da conta de S.S. J., mas segundo a funcionária, o valor não teria creditado na conta do Grupo Franly.
“Pedimos a conta do quarto e disse que iria pagar com cartão. Quando a moça veio eu disse que o pagamento era no débito. Eu tinha cerca de R$ 100 na minha conta e não tinha outra forma de pagamento. A única forma era débito. Passei o cartão e ela disse que não havia dado certo porque não tinha emitido o comprovante na maquineta. Eu abri o aplicativo do Banco do Brasil no meu celular e mostrei para ela que o valor havia sido debitado. Ela disse que não e me obrigou a passar novamente. Aceitei e tentei novamente, mas já sabia que não passaria, pois o valor já não estava mais na minha conta e realmente não deu”, contou S. S. J..
Nesse momento, segundo o casal, foi onde se iniciou toda a confusão. As funcionárias do Sey Lá Motel não apresentaram alternativas e pediram para que o casal aguardasse por cerca de 10 minutos para que o banco pudesse estornar o valor. A conta foi paga às 00h52.
Passado o tempo solicitado, a funcionária retornou ao quarto e solicitou que o cartão fosse novamente passado na máquina, contudo, o valor não havia sido estornado o que impedia que a conta fosse aprovada novamente. Diante da recusa do cartão, as funcionárias informaram que não poderiam fazer nada e que o casal teria que aguardar até que o valor fosse estornado para a conta ou creditado na conta do Grupo Franly.
PORTÕES FORAM TRANCADOS PARA IMPEDIR SAÍDA DO CASAL
Sem saber como fazer, o casal então decidiu sair do quarto e ir para o portão do motel, na tentativa de sair do local. No momento chovia forte e as funcionárias passaram cerca de 30 minutos para irem até o local tentar dialogar com as vítimas.
“Fiquei no portão tentando sair. Elas trancaram todas as saídas e disseram que eu não iria sair do motel até que o valor fosse creditado na conta deles. Nesse momento outros casais tentaram sair, mas eu estava na frente. Elas gritavam comigo e com minha namorada para que saíssemos do meio, pois estaríamos impedindo a passagem de outros clientes. Como ficamos na saída 1, eles orientaram para que os demais clientes fossem para a saída 2, pois o portão estaria quebrado. Ficamos totalmente constrangidos, pois as pessoas estavam presenciando toda aquela confusão e estavam nos tratando como bandidos, como se estivéssemos tentando sair sem pagar a conta, sendo que já havíamos pago”, completou.
Uma hora depois, às 01h58 do sábado, o casal já havia tentado sair de todas as formas do motel, mas os portões continuavam trancados e ninguém dava alternativas. Nesse momento, o valor do pagamento continuava debitado da conta de S. S. J..
Uma mulher identificada como Adriana, funcionária do Sey Lá Motel, possivelmente gerente do local, disse que o casal teria que penhorar algum bem para então poder sair, mesmo com o valor debitado da conta, o que comprovava o pagamento. Adriana informou que as funcionárias não poderiam ficar no prejuízo e que a situação é recorrente. Segundo ela, diversos clientes fazem da mesma forma e saem sem pagar.
O casal se recusou a deixar qualquer bem penhorado. “Eu não iria deixar nada meu, pois eu já havia pago a conta. Eu não tinha mais dinheiro e a alternativa que elas me deram foi deixar algum bem para que eu pudesse voltar no dia seguinte. Ela falava a todo instante que elas não poderiam ficar no prejuízo. Mas como? se eu já havia pago. Então eu teria que ficar no prejuízo, mesmo pagando a conta teria que deixar um bem penhorado só porque o valor não constava na conta deles?”, criticou S. S. J..
OUVIDORIA DO GRUPO FRANLY TAMBÉM PEDIU PENHORA DE BENS
Cerca de 1h30 depois, o casal decidiu então ligar para a Ouvidoria do Grupo Franly em busca de uma solução. Através do telefone que consta no perfil oficial do Instagram (86 3233-6300), uma mulher identificada como Márcia, teria sido enfática e insensível ao obrigar que o casal deixasse bens penhorados para que pudessem sair. Quando o casal entrou em contato com a Ouvidoria, as funcionárias do Sey Lá Motel já haviam comunicado o caso. Márcia tinha conhecimento da situação. O casal gravou toda a ligação.
“Esse horário os bancos dão muito problema. Se o senhor passar duas vezes e for debitado duas vezes, a empresa vai devolver o valor. Ela não pode liberar porque amanhã esse valor vai sair do bolso dela. O senhor tem que arrumar outra forma de pagamento, deixe algo penhorado aí. Se elas liberarem é certeza que amanhã esse valor vai sair do bolso delas”, disse a funcionária da Ouvidoria.
Sem solução, o casal tornou a aguardar que o valor fosse estornado. Mas sem sucesso, voltou a ligar para a Ouvidoria, que novamente pediu para que algum bem fosse penhorado para que a liberação ocorresse.
“Senhor ela não pode liberar. A empresa vai ficar no prejuízo? A máquina está funcionando normal, desde o começo da noite que ela trabalha. É preciso o valor cair pra empresa para o cliente ser liberado. Eu não posso mandar elas abrirem o portão para o senhor sair, já que o pagamento não consta para ela, porque esse valor vai sair do bolso delas. Elas não podem liberar sendo que não sabem se o valor foi creditado porque aí vai sair do bolso delas. Não trabalhamos com documento, telefone ou nome, é preciso você deixar alguma coisa de valor. Para o senhor ser liberado e preciso que se resolva de uma forma justa, a empresa não pode ficar no prejuízo desse jeito”, voltou a afirmar a funcionária Márcia.
POLÍCIA MILITAR FOI ACIONADA APÓS 2 HORAS
Sem sucesso no diálogo com as funcionárias do Sey Lá Motel e nem com a Ouvidoria, o casal, após ser humilhado e obrigado a penhorar algum bem para sair do local, decidiu chamar Polícia Militar para resolver o impasse. Durante esse intervalo, diversos clientes presenciaram a situação, o que deixou o casal completamente constrangido.
Em diálogo com a Polícia Militar, por telefone, S. S. J. relatou a situação. A PM foi acionada às 01h55. Cerca de 30 minutos depois uma viatura adentrou no Sey Lá Motel e os policiais chamaram o casal para entenderem a situação. Nesse momento, outros clientes também estavam presenciando o diálogo.
“Na hora que a PM chegou no motel, eles foram abordados na entrada pela funcionária Adriana que contou como se deu a questão. Só em seguida eles vieram até meu carro e me questionaram sobre o que estavam acontecendo. Contei toda a história e mostrei para eles o meu aplicativo do Banco do Brasil. Mostrei que o valor havia sido debitado e mostrei o horário do pagamento. De imediato eles determinaram que o portão fosse aberto e eu fosse liberado”, contou S. S. J..
“Ficamos totalmente constrangidos. A empresa não lhe apresenta soluções para resolver um problema que é deles. Ficamos mais de duas horas presos dentro de um motel, sem puder sair e fomos obrigados a chamar a Polícia Militar para resolver e nos liberar. Todo mundo que estava no motel viu a confusão. Ficamos totalmente constrangidos e nos sentimos humilhados”, disse R. B. Mazzerine.
Já na manhã do sábado, por volta das 7h15 da manhã, S. S. J. informou que acessou o aplicativo do Banco do Brasil e realmente o valor havia sido debitado da conta. Não houve falha no pagamento e o comprovante havia sido emitido.
“Foi feita toda uma confusão por algo que eu havia pago e que eu tinha certeza que estava tudo ok. Fui humilhado e constrangido com minha namorada pelas funcionárias do motel e pela Ouvidoria. Espero nunca mais passar por esse tipo de situação e que sirva de lição para que elas priorizem e respeitem os clientes, que possam resolver os problemas e alternativas sejam apresentadas sem desrespeito ao cliente. Vou tomar as providências cabíveis na esfera judicial contra a empresa e contra as funcionárias que nos humilharam”, finalizou.