Bolsonaro dá palanque para Mourão no Rio Grande do Sul
Desde que anunciou sua candidatura ao Senado, vice-presidente participou de três das quatro visitas de Jair Bolsonaro ao estado
Depois de meses de desavença, a relação do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) com o presidente Jair Bolsonaro (PL) parece viver dias de paz. Levantamento do Metrópoles mostra que, após o general ter anunciado que disputará uma cadeira ao Senado Federal, os dois passaram a viajar juntos ao Rio Grande do Sul – estado pelo qual Mourão deve tentar uma vaga.
O general e o chefe do Executivo federal estiveram juntos em três das quatro visitas presidenciais ao estado. Nessas ocasiões, Bolsonaro permitiu que Mourão compusesse o palanque dos eventos oficiais.
Confira as agendas em que Mourão acompanhou Bolsonaro, no dia 8 de abril:
Cerimônia de Inauguração da Duplicação da BR-116 e da BR-392
Cerimônia por ocasião de Visita às Obras da Unidade de Radioterapia da Santa Casa de Caridade de Bagé
Entrega das obras de ampliação do Aeroporto Regional de Passo Fundo
No dia 7 de abril, Bolsonaro esteve no Rio Grande do Sul para participar da Feira Nacional da Soja. Havia previsão de que o vice-presidente participasse, mas isso não ocorreu. Mourão estava voltando de viagem ao Uruguai e não conseguiu chegar a tempo.
Mourão fora da chapa à reeleição
Após receber várias alfinetadas do presidente, Mourão anunciou, em fevereiro deste ano, que não comporia uma eventual chapa de reeleição.
Pouco mais de um mês depois, o vice-presidente se filiou ao Republicanos, em cerimônia na sede do partido.
Levantamento do Metrópoles aponta que, até o fim do ano passado, o chefe do Executivo já havia alfinetado ou desautorizado Mourão em público ao menos 24 vezes desde o início do mandato.
Na última delas, o ex-capitão criticou a “autonomia” do general. Segundo Bolsonaro, o vice teria “vida própria”, e isso pode ter criado problemas. Um dos indícios do desalinhamento é a queda do número de reuniões entre os dois. Os encontros entre o presidente e o vice caíram 85% de 2019 a 2021.
Reaproximação por conveniência
De acordo com Ricardo Caichiolo, professor de Ciências Políticas do Ibmec Brasília, “não há dúvidas de que a aproximação do pleito eleitoral é o fator fundamental para a reaproximação” entre o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão. Isso porque, mesmo que Bolsonaro o tenha rejeitado em certas ocasiões, o mandatário sabe o peso político do general.
“Por um lado, o vice-presidente exerce grande influência junto às Forças Armadas, especialmente o Exército, com quem convém a Bolsonaro manter uma relação harmônica, na medida em que os militares têm tido um papel fundamental em seu governo e terão, também, na corrida eleitoral”, explica o especialista.
Além do benefício que a união traz para Bolsonaro, segundo Caichiolo, Mourão também se favorece com a trégua, já que precisará de apoio político no estado.
“Para Mourão, o apoio do presidente em sua campanha ao Senado pelo Rio Grande do Sul mostra-se o único caminho possível. Qualquer sinalização diferente representaria uma ruptura, e isso não seria favorável ao vice-presidente nessa disputa que se revela bastante acirrada”, salienta o professor.
“A eleição de Mourão no estado será importante para Bolsonaro para fortalecer sua eventual base de apoio, em caso de um segundo mandato”, completa.
Bom desempenho
Não foi à toa que, após a filiação, o vice-presidente intensificou suas idas ao Rio Grande do Sul. Em contraste com 2020 e 2021, quando o general havia ido a 15 municípios – somando os dois anos –, apenas no primeiro semestre de 2022 Mourão já visitou o estado gaúcho em 19 ocasiões.
Neste ano, 27 senadores encerram seus mandatos, isto é, apenas um terço do Senado será renovado. Cada estado terá só uma vaga para senador. O vencedor da disputa permanecerá na cadeira até fevereiro de 2030. Por ser um estado natal de grande parte dos políticos de direita e centro-direita, as candidaturas dessas figuras serão maiores que a eleição passada.
De acordo com as pesquisas mais recentes, como a do Paraná Pesquisas, o vice-presidente aparece em primeiro lugar na expectativa de votos do eleitorado gaúcho, com 22,7% da preferência. O cenário não considera o nome do ex-governador Eduardo Leite. Com Leite, Mourão ainda se mantém em primeiro, com 22%. Se a eleição fosse hoje, o general ganharia em três cenários.
Para o resultado, o Paraná Pesquisas realizou 1.540 entrevistas presenciais com eleitores de 62 municípios do Rio Grande do Sul, entre os dias 15 e 20 de maio de 2022. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa está registrada no TSE sob o número RS-05915/2022.