O exemplo pessoal não faz parte do marketing de João Doria
Flagrado pegando sol sem máscara num hotel de luxo no Rio de Janeiro, o governador dá a impressão de que a pandemia é coisa de pobre
O governador João Doria é especialista em marketing, mas não em dar exemplos. Ele foi flagrado tomando sol na piscina de um hotel do Rio de Janeiro, todo relaxado, neste fim de semana. O vídeo foi postado ontem nas redes sociais, os bolsonaristas alegraram-se como pinto no lixo e o fato foi confirmado pelo governo de São Paulo hoje, em nota: “O governador João Doria estava neste domingo no hotel Fairmont, no Rio de Janeiro, em momentos de descanso com a esposa e não promoveu nenhum tipo de aglomeração”.
Em dezembro, na semana do Natal, João Doria também teve de voltar apressadamente da Flórida, depois que veio à tona que ele havia viajado para lá, em meio à pandemia. Na ocasião, o governador pediu desculpas:
“Não tenho compromisso com o erro. Viajei para atender dois convites de conferências na Flórida que não pude atender antes, então estabeleci com a Bia [Doria] que passaríamos dez dias, do total de 30 dias de férias que todo servidor tem. Quando pousei em Miami recebi um telefonema do vice, Rodrigo Garcia, que estava como governador em exercício. Ele teve um início de covid-19 com alguns problemas já superados, o que o deixou preocupado e a mim também, portanto tomei a decisão de voltar para São Paulo no mesmo dia junto com Bia. Já estou aqui, no Palácio dos Bandeirantes, trabalhando normalmente e reassumi o governo.”
A menos que Papai Noel o tenha convidado para conferências na semana de Natal na Flórida, a justificativa soa inverossímil. Quanto à história de que Doria não provocou aglomeração na piscina do hotel no Rio de Janeiro, ela pode até ser verdadeira, mas não é esse o ponto. O ponto é que o governador estava sem máscara, numa boa, enquanto o cidadão que vai a um parque público ou à piscina de um clube em São Paulo, estado onde ele diz que quem manda é a ciência, é obrigado a usá-la. O ponto é que a recomendação é para que as pessoas evitem sair o máximo possível de casa e não viajem, ao contrário do que fez João Doria.
Ocupar o cargo de governador deveria implicar ter comportamento compatível com a função, como o de servir de modelo para os cidadãos. Com um país com mais de 470 mil mortes de Covid, taxa de infecção estratosférica e sem vacinas suficientes, é absolutamente condenável que João Doria vá pegar uma piscina no Rio de Janeiro, e piscina de hotel, sem máscara, ao lado de um monte de hóspedes igualmente desprovidos do acessório de segurança. Como ele poderá, de agora em diante, recomendar que os paulistas não se descuidem e dizer que o seu governo segue rigorosamente os protocolos da ciência? Como será possível punir quem desrespeita as recomendações da Secretaria de Saúde?
Para não falar que é ofensivo, num país com dezenas de milhões de desempregados e empresários falindo por causa da Covid, um governador desrespeitar medidas restritivas numa bolha de luxo, com o seu short Vilebrequin. Aos olhos dos cidadãos que certamente não frequentam os ambientes exclusivos do governador, fica parecendo que a pandemia é apenas para os pobres, em efeito semelhante ao causado pelas aglomerações dos filhinhos de papai em Campos do Jordão.
O exemplo pessoal definitivamente não faz parte do marketing de João Doria, representante de uma elite chinfrim que se acha acima do bem e do mal.