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Suspeito de matar esposa e tentar forjar suicídio é denunciado por homicídio triplamente qualificado

Eliésio Marinho da Silva foi preso em outubro de 2023 suspeito de assassinar a esposa Kamila Carvalho do Nascimento, na Zona Norte de Teresina. A investigação concluiu que o marido forjou um suicídio ao colocar uma faca na mão da vítima já morta.


Eliésio Marinho da Silva, ex-marido de Kamila Carvalho do Nascimento, encontrada morta com um tiro na cabeça em sua residência, em outubro do ano passado, na Zona Norte de Teresina, foi denunciado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, fraude processual e posse ilegal de arma de fogo de uso restrito.

Preso preventivamente desde a morte da esposa, Eliésio vai responder pelos crimes em liberdade. A soltura foi concedida pela Justiça do Piauí, em janeiro deste ano, mediante o cumprimento de medidas cautelares como recolhimento domiciliar noturno, monitoramento eletrônico e proibição de se aproximar da filha, da irmã e do pai da vítima.

A denúncia foi oferecida pelo promotor de Justiça Régis de Moraes Marinho, do Ministério Público do Piauí (MP-PI). Segundo o órgão, as qualificadoras do homicídio são:

  • motivo torpe;
  • recurso que impossibilitou a defesa;
  • contra a mulher por razões da condição do sexo feminino (feminicídio).

Na peça, o promotor cita ainda a violência doméstica e familiar, o feminicídio praticado na presença de descendente – a filha do casal, de 4 anos, presenciou o crime – e o emprego de arma de fogo de uso restrito.

No fim de dezembro, o Núcleo de Feminicídio do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) apontou que Eliésio forjou um cenário de suicídio ao colocar uma faca na mão da vítima já morta e uma arma de fogo próxima ao seu corpo.

O laudo pericial demonstrou ainda que o disparo que matou Kamila foi realizado de uma distância maior do que seria possível se ela mesma segurasse a pistola.

As conclusões da perícia levaram a delegada Nathalia Figueiredo, do DHPP, a indiciar o ex-marido de Kamila pelos crimes de homicídio – qualificado como feminicídio e por ser cometido diante de uma criança – e fraude processual – pela tentativa de ludibriar os investigadores.

O suspeito do crime, Eliésio Marinho da Silva, foi preso três dias após a morte da ex-esposa. Ele ficou 96 dias preso e foi solto pela Justiça em 26 de janeiro de 2024.

Reprodução simulada do crime

Em 28 de novembro, o DHPP e o Instituto de Criminalística realizaram uma reprodução simulada da morte de Kamila Carvalho do Nascimento, de 22 anos. A jovem foi encontrada com um tiro na cabeça dentro de casa, em outubro de 2023, na cidade de Teresina.

O resultado dessa reprodução foi o laudo pericial, que revelou a tentativa de Eliésio de forjar o suicídio. Conforme a delegada Nathalia Figueiredo, a perícia observou três questões que corroboram para a tese de que o suicídio foi simulado:

  • Empunhadura da faca na mão da vítima: Kamila não teria como empunhar a faca da forma como estava no momento em que atirou em si própria. A empunhadura não era compatível com a posição da vítima, e teria sido colocada na mão após a morte;
  • Distância entre a arma e a vítima: Um tiro disparado contra a própria cabeça, por conta da curta distância, deixaria diversos vestígios na vítima, como restos de pólvora ou queimaduras na pele. A perícia, no entanto, constatou que o tiro que a matou foi disparado de uma distância maior do que seria possível se ela mesma estivesse segurando a pistola. Testes feitos com a mesma arma e munição demonstraram que ela sofreria os efeitos secundários ao tiro mesmo com a arma a 40 centímetros do rosto, distância ainda superior ao tamanho do braço dela, mas a vítima não apresentava nenhuma marca ou vestígios;
  • Manipulação do corpo da vítima: A perícia constatou que houve mudanças na posição da cabeça e de membros do corpo de Kamila após a morte. Além disso, o suspeito teria relatado que conseguiu ver o buraco produzido pelo tiro na cabeça da vítima. “Mas ele não teria como ver esse buraco se não tivesse movido o corpo dela”, explicou a delegada.

Tiro foi disparado a longa distância

DHPP investiga caso de mulher encontrada morta em casa com tiro na cabeça na Zona Norte de Teresina — Foto: Reprodução

O caso foi tratado inicialmente como um possível suicídio, conforme relatos do próprio marido. No entanto, o laudo cadavérico apontou que o tiro foi disparado a longa distância. Ou seja, o laudo indica que a própria vítima não poderia ter disparado o tiro.

“Um dos fatores que levaram à [prisão] temporária dele foi justamente que o laudo cadavérico da vítima mostrou que o disparo foi a longa distância e não a curta distância como ele teria relatado”, explicou a delegada Nathália Figueiredo, do Núcleo de Feminicídio do DHPP, responsável pelo caso.

Entenda o caso

Kamila Carvalho do Nascimento foi encontrada morta com um tiro na cabeça em sua residência na madrugada da última sexta-feira (20), no bairro Nova Brasília, Zona Norte de Teresina. O caso é investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), por meio do Núcleo de Feminicídio.

A Polícia Militar do Piauí (PM-PI) tomou conhecimento do caso após ser acionada, por volta de 2h, pelo advogado do marido da vítima.

“Quando a polícia chegou, a mulher foi encontrada morta no quarto com um tiro na região da cabeça, segurando uma faca na mão esquerda. Além disso, havia uma arma de fogo próxima ao corpo. Na residência se encontravam o advogado do marido da vítima e a filha do casal, de 2 anos”, informou o delegado Francisco Costa, o Barêtta, coordenador do DHPP.

A pistola encontrada próximo ao corpo de Kamila, segundo a Polícia Militar, estava com o gatilho travado.

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