Professor é denunciado por injúria racial contra o vereador Ismael Silva em Teresina: ‘negro de salão’
O vereador reeleito, e anunciado para a Secretaria de Educação de Teresina a partir de 2025, disse que foi chamado de "negro de salão" após entrevista em que denunciou a falta de merenda nas escolas da rede municipal de ensino. Historiador explica que termo faz alusão aos tempos da escravidão.
O vereador reeleito Ismael Silva (Progressistas), anunciado para a Secretaria de Educação de Teresina a partir de 2025, registrou boletim de ocorrência por injúria racial, na quinta-feira (31), após um comentário de teor racista dirigido a ele (veja acima) por um servidor público em um grupo de formação de professores da Semec. Ismael foi chamado de “negro de salão”.
“Nem assumiu ainda, já começou a fazer ameaças. Mais um negro de salão estilo Jojo Todinho”, escreveu o professor, que não teve o nome informado e que no grupo estava apenas identificado pelas iniciais RCS.
O vereador disse que registrou o caso na polícia. Segundo ele, o professor comentava uma entrevista concedida por ele acerca de denúncias de falta de merenda nas escolas da rede municipal de Teresina, que serão levadas ao Ministério Público Federal (MPF).
O print da mensagem chegou até Ismael por meio de sua assessoria parlamentar. Além do BO, o vereador afirmou que está formalizando uma denúncia no âmbito administrativo da prefeitura contra o professor.
“É uma situação lamentável, sobretudo partindo de quem partiu, de alguém que atua diretamente na formação do caráter das nossas crianças. Eu fiquei ainda mais assustado por ter sido uma ofensa gratuita, tendo em vista que eu particularmente não fiz nada, nem teci nenhum comentário relativo aos professores, mas sim à atual gestão de Teresina. Não podemos tolerar em hipótese alguma esse tipo de conduta”, declarou o futuro secretário.
O que a expressão quer dizer?
Segundo o doutor em História Solimar Oliveira, a expressão “negro de salão”, quando utilizada para se referir a pessoas negras (que inclui preto e pardos), faz alusão aos tempos da escravidão no Brasil.
Naquela época, os escravizados negros eram tratados como serviçais da casa-grande, a residência da família dos proprietários rurais. Eles viviam comumente na senzala, alojamento destinado à moradia dos escravos.
“Era uma pessoa de confiança, que ficava à disposição para servir e encaminhar tarefas de interesse senhorial. É utilizada para dizer que alguém não tem autonomia, faz o que o outro manda”, explicou o professor.
Para Solimar, qualquer discriminação impacta negativamente a existência da pessoa discriminada, mas o ato se torna mais grave quando cometido contra segmentos sociais subalternos – ou marginalizados – como os negros. Assim, é uma prática a ser reprimida e combatida.
O professor destacou que, quando negros ocupam espaços de poder, sua presença sempre será vista com desconfiança e “permanente estado de tensão”. Na visão dele, as pessoas negras conscientes de sua condição devem estar prontas a qualquer momento para conflitos e enfrentamentos nas relações.
“Esses espaços não foram estabelecidos para os segmentos subalternos. O reconhecimento da negritude deve ir para além da cor da pele, é um ato político, coletivo e cotidiano de reafirmação. Enquanto não for pensado assim, preconceitos, discriminações e racismos estarão sempre presentes em todas as esferas”, completou Solimar.
Fonte: G1 Piauí