Homem que morreu em salto de speed fly era instrutor de paraquedismo
José de Alencar Lima Junior, de 49 anos, praticava a modalidade na Pedra Bonita, em São Conrado, Zona Sul do Rio.
Parentes de José de Alencar Lima Junior, de 49 anos, que morreu após saltar da Pedra Bonita usando um speed fly, estiveram, na manhã desta segunda-feira, no Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio para tratar sobre a liberação do corpo da vítima. Em entrevista ao GLOBO, uma cunhada, que preferiu não ser identificada, afirmou que José era instrutor de paraquedismo e dividia a vida entre Brasil e Alemanha. O salto foi em São Conrado, na Zona Sul do Rio. Para a mulher, o caso se tratou de um acidente.
— Foi um choque para a família porque até agora não entendemos o que aconteceu. Ele trabalhava com isso há muitos anos e era experiente. Acreditamos que tenha sido, infelizmente, um acidente — diz.
Ainda de acordo com a mulher, José estava passando uma temporada no município. O instrutor dava preferência por estar no país nas épocas mais quentes do ano. Ele havia acabado de realizar uma viagem para a Europa.
— Ele sempre vinha para o Rio no verão porque ele amava o calor, sentia bastante falta do clima daqui. Eu não sei se ele já tinha saltado da Pedra Bonita, mas ele era muito experiente, 20 anos trabalhando com isso — conta.
A cunhada também relata que José amava viajar. Nos próximos dias, o instrutor planejava ir para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde faria saltos. Ele era responsável por conduzir pessoas com menos experiência.
— Isso era um sonho para ele, saltar de vários lugares do mundo — destaca.
Além da cunhada, a mãe, a esposa e um amigo do instrutor estavam no IML. Bastante abalados, eles não quiseram se manifestar.
Em nota, a Polícia Civil informou que fará uma perícia no equipamento de speed fly usado por José. O caso é investigado pela 15ª DP (Gávea).
‘Tropeçou num buraco’
Um dos funcionários do Parque Nacional relatou que José chegou sozinho ao local e subiu a pé até a Pedra Bonita realizando uma caminhada que leva cerca de 30 minutos. A moto da vítima ainda permanece estacionada próximo a entrada da trilha. O funcionário ainda aponta que algumas pessoas que estavam próximas da rampa de decolagem alegaram que, antes de cair, o instrutor havia tropeçado em um buraco.
— Ele chegou aqui, deixou a moto e foi fazer a trilha. Essa trilha fica aberta, todo mundo pode fazer. Ele não aparentava estar com nenhum equipamento. Só vimos ele entrando normalmente. Um pessoal disse que ele tropeçou num buraco antes de cair, mas não sei ao certo se isso aconteceu mesmo — lembra.
O presidente do Clube São Conrado de Voo Livre (CSCLV), José Carlos Srour de Mello, lamentou o ocorrido e destacou que os voos de parapentes na região são seguros, sendo realizados apenas por pessoas credenciadas, com licença e equipamentos regularizados. Mello reforça que os voos são iniciados a partir de uma rampa oficial.
— É uma área que pertence ao Parque Nacional da Tijuca e, pelo plano de manejo do parque, é vedado qualquer decolagem de qualquer área que não seja da rampa da Pedra da Bonita. Porém, a fiscalização de um território enorme desse não consegue ser feita de forma eficaz. A pessoa entra por uma trilha e ela pode sair na Pedra Bonita, no Alto da Gávea, em qualquer localidade dessa. Ali ela fica por sua conta e risco. Foi o que aconteceu com o rapaz, ele pulou por conta própria. Nós lamentamos muito ter acontecido esse incidente, mas deixamos claro que não tem nenhuma relação conosco — aponta.
Já Luis Otávio Meneses, membro do CSCLV e pioneiro benemérito do parapente, classificou o speed fly como uma modalidade de salto livre mais perigosa. Meneses explicou que a prática não possui um equipamento robusto, necessita de vento forte para impulsionar o voo e não é regulamentada:
— O speed-fly é um voo livre, mas é uma modalidade que utiliza uma asa muito pequenininha e ela atinge uma velocidade muito grande. Então, para decolar, precisa ter um vento forte. O speed é uma derivação do parapente, mas com outras características técnicas, principalmente de risco. Fora isso, não tem nenhuma entidade que regularmente ou fiscalize o speed. Então, é uma prática avulsa, a pessoa pode comprar o equipamento onde for e tentar decolar. Não é o caso do voo livre, que existe uma confederação, existem federações estaduais.
Para Pedro Lacaz Amaral, do Gear Tips, empresa de educação e capacitação de praticantes e profissionais de atividades ao ar livre, se as pessoas não conhecem o local, precisam estar com guias ou instrutores. Outro ponto mencionado por ele é seguir as recomendações dos órgãos locais, respeitar trilhas e caminhos indicados oficiais.
— Para a prática de qualquer atividade ao ar livre, é fundamental que três engrenagens estejam muito bem ajustadas: condicionamento físico e mental; conhecimento de equipamentos e tecnologias; habilidades técnicas. O planejamento e a preparação prévios é o que faz a diferença. Se você não conhece o local, é fundamental que vá com um guia ou um instrutor — reforça.
Fonte: O Globo