Comoção marca velório de criança morta eletrocutada
Menino teve pelo menos oito paradas cardíacas e, apesar de todo o esforço da equipe médica, não resistiu.
Um menino de dois anos identificado como Arthur Luís Alves do Nascimento morreu eletrocutado, na noite desta terça-feira (26), supostamente, após receber uma descarga elétrica em uma placa luminosa de uma revenda de gás de cozinha na Vila Wall Ferraz, na zona Sul de Teresina.
As testemunhas explicaram à equipe do 22º Batalhão da Polícia Militar (BPM), que atendeu à ocorrência, que no momento que a criança recebeu a descarga ela brincava na calçada na companhia de outras crianças. Ainda segundo as testemunhas, os fios no local estariam expostos há cerca de 15 dias.
A criança chegou a ser socorrida pela mãe e por um vizinho, em uma motocicleta, e levada para a Unidade de Pronto Atendimento do bairro Promorar, onde teve oito paradas cardíacas antes de falecer.
Velório ocorre com muita comoção e revolta
O velório está sendo realizado nesta quarta-feira (27) na casa do avô de Arthur, no Promorar, porque a família não quis se despedir da criança no local onde ele morreu. Com muito comoção, abalada, a família pede por Justiça e critica a falta de apoio da empresa.
A mãe, Aline Walesca Alves Aragão, inconsolável, permaneceu sentada de costas para o caixão, sem forças para olhar para o corpo do filho. O irmão mais velho estava debruçado sobre o caixão, visivelmente abalado. Ele também sofreu uma descarga elétrica ao tentar salvar o pequeno Arthur.
Aline Walesca relembrou o momento em que tudo aconteceu: “Ele só foi se sentar no chão e acabou tocando na placa. Eu gritei com meu filho nos braços, e eles não me ajudaram”, lamentou Aline, entre lágrimas.
As duas bisavós de Arthur moram na mesma rua onde tudo aconteceu. Todos os fins de tarde, a mãe, junto com Arthur e seu irmão de 12 anos, costumam visitar uma das bisavós, que vive a cerca de 50 metros da revenda de gás. Na rua, é comum as famílias se reunirem na porta de casa para conversar, enquanto as crianças brincam.
Antes de se juntar aos amiguinhos, Arthur pediu a bênção da bisavó e caminhou até a calçada da revenda de gás, onde estavam outras crianças.
“Ele disse: ‘Bênção, minha bi’ e saiu correndo para encontrar os amiguinhos. Foi a última coisa que ele disse. Depois só ouvimos os gritos desesperados da minha sobrinha. Ninguém da empresa ajudou. Um rapaz aqui da vizinhança levou minha sobrinha, de moto, com a criança nos braços”, relatou a tia-avó, Elisiane Alves.
A família reclama que não recebeu nenhum tipo de apoio da empresa.
“Para eles, quem morreu foi um cachorro. Não ajudaram, minha sobrinha foi quem ajudou a socorrer ele e eles estão trabalhando como se nada tivesse acontecido, porque o que importa é o dinheiro”, desabafou Elisiane.
Vizinhos apontam descaso da empresa
A reportagem apurou que os refletores que iluminavam a placa foram retirados há cerca de um mês, e os fios podem ter ficado sem isolamento.
“Roubaram os refletores que iluminavam a placa, e ninguém nunca arrumou os fios que ficaram lá expostos”, relatou uma vizinha.
Vídeos feitos pelos moradores mostram trabalhadores realizando reparos na placa na manhã de hoje.
O tio-avô do menino afirmou que, enquanto a criança lutava pela vida na UPA, um trabalhador da empresa passou fita isolante nos fios expostos.
“Se a mãe não estivesse lá, do lado deles, ela teria perdido os dois filhos, porque o mais velho também levou um choque ao tentar salvar o irmão”, relatou.
Outras quatro crianças estavam na calçada no momento em que Arthur sofreu a descarga elétrica.
Outro lado
A reportagem procurou a administração da revenda de gás de cozinha, mas até a publicação desta matéria não recebemos resposta. O espaço segue aberto para esclarecimentos.