Justiça volta a negar pedido de soltura e mantém prisão preventiva de estudante que matou casal em Teresina
Presídio já havia afirmado, nesta semana, que possui condições de manter João Henrique preso; defesa alegou problema de saúde.
A Justiça do Piauí negou o pedido de soltura de João Henrique Soares Leite Bonfim, acusado de atropelar e matar um casal na zona Leste de Teresina no dia 1º de dezembro do ano passado. As vítimas deixaram três filhos. O juiz Muccio Miguel Meira, na decisão divulgada na quinta-feira (23), reforçou o risco da liberdade do estudante.
Ele foi submetido a exames médicos, após a defesa alegar que precisaria de um tratamento fora do presídio por causa de uma cardiopatia congênita. No entanto, em relatório, a Cadeia Pública de Altos afirmou que teria condições de manter o estudante de direito preso diante do seu quadro de saúde, o que foi considerado pelo juiz Muccio Miguel Meira.
“Fica afastada a possibilidade de revogação da prisão ou concessão de prisão domiciliar por motivo de saúde, haja vista o relatório médico ter concluído pela higidez do estado de saúde do acusado e pela idoneidade do sistema penitenciário para o acompanhamento clínico de que ele necessita. [..] Pode ser que solto, o acusado continue dirigindo de forma imprudente, entorpecido por álcool e outras substâncias colocando em risco outras pessoas no trânsito, já que ele já se envolveu em outro acidente, quando nem tinha habilitação. Aqui reside a necessidade de prisão para garantir a ordem pública, nos termos do art. 312 do CPP”, afirmou o magistrado.
Na decisão, o juiz ainda relembrou o outro acidente, anteriormente, onde um motociclista ficou ferido após ser atropelado pelo carro de João Henrique. “Não se discute aqui se ele teve ou não culpa naquela situação. Porém, espera-se posteriormente de alguém que se envolveu recentemente num acidente a devida cautela e respeito às leis de trânsito. E, no caso concreto, há indícios de que o acusado agiu de forma completamente irresponsável e temerária, criando todo um contexto que claramente poderia acabar em tragédia. Dirigia embriagado, possivelmente sob efeito de metanfetamina; e o veículo estava sem placas de identificação”, afirmou.
O magistrado acrescentou que, segundo o inquérito policial, João Henrique teria tentando esconder as placas do veículo, colocando-as dentro das calças e abaixo da camisa. “Placas essas que devem ter caído de dentro do veículo quando da capotagem decorrente do acidente; o que pode apontar ausência de qualquer sentimento para com as vítimas e a vontade deliberada de livrar-se da responsabilidade dos fatos“, declarou.
Na decisão, o juiz ainda pontuou que “todo o contexto acima avaliado pode apontar intensa reprovabilidade no caso concreto, pois o acusado estaria bêbado, sob efeito de anfetaminas, conduzindo um veículo sem as placas, passando sinal vermelho e em velocidade totalmente incompatível com a via, num comportamento que potencialmente poderia colocar em risco a vida de inúmeras pessoas, como de fato aconteceu, pois duas vidas foram ceifadas”.
Por fim, o magistrado destacou que as alegações da defesa “não ensejam por si só o direito de alguém responder em liberdade, máxime quando presentes os requisitos da prisão preventiva”, e, portanto, indeferiu o pedido de revogação da prisão preventiva.
Cadeia afirma que tem condições de manter estudante preso
O médico Talles Antonio Coelho de Sousa atestou que a Cadeia Pública de Altos tem condições de manter João Henrique Soares Leite Bonfim preso diante do seu quadro de saúde apresentado pela defesa. O documento foi assinado nessa segunda-feira (20).
João Henrique foi submetido a exames médicos, após a defesa alegar que ele precisaria de um tratamento fora do presídio por causa de uma cardiopatia congênita. A avaliação médica foi determinada pela justiça na semana passada. As famílias das vítimas temiam que o estudante deixasse a cadeia em decorrência desse problema de saúde.
“João Henrique Soares Leite Bonfim, encontra-se nesta unidade (Cadeia Pública de Altos – CPA), em bom estado geral. […]No momento, o paciente está hemodinamicamente estável. Diurese e dejeções presentes, ambas sem alterações. Sem intercorrências cardíacas durante o período em que se encontra nessa unidade, assim como, não alegou intercorrências cardíacas relacionadas aos seus antecedentes nos últimos anos. Ao exame físico: bom estado geral, lúcido, orientado, consciente, corado e hidratado, anictérico, afebril. Pressão Arterial = 120/80 mmHg. Frequência Cardíaca = 92 bpm, Saturação 02 = 96%, Glicemia capilar“, atestou o laudo.
Ao Poder Judiciário, o profissional de saúde ainda afirmou que a Cadeia Pública de Altos dispõe de médicos para atendimento.
“A CPA possui atendimento com 03 (três) médicos generalistas, dividindo escala de segunda a sexta, além de um médico psiquiatra e uma médica dermatologista. As demais especialidades, como médico cardiologista, seguem a regulação/encaminhamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assim como para a sociedade em geral. Destaca-se que fica a critério da família a realização do acompanhamento pelo SUS e, nesse caso, havendo condições de realizar o atendimento no setor particular e, seguindo as normas internas, não há nenhum óbice. Quando há casos graves e excepcionais, os pacientes são regulados imediatamente para o Hospital de Urgência de Teresina (HUT)”, destacou.
O médico ainda ressaltou que o cuidado com João Henrique seria apenas acompanhamento clínico. “Ainda que haja ausência do profissional médico, há uma equipe multiprofissional de plantão. Não há nenhum impedimento interno para a realização do seu tratamento de saúde. A única medicação de uso continuo em que o paciente faz uso é o ácido acetilsalicílico 100 mg (conhecido como AAS) 1x ao dia. Medicação de baixo custo, fornecido pelo SUS e que é ofertado nessa unidade”, concluiu.
O laudo foi encaminhado à justiça que deverá emitir uma nova decisão nas próximas horas acerca do pedido da defesa do estudante.
Fonte: A10+