Grilagem de terras e narcotráfico leva PF a planejar operação no PI
Empresários piauienses teriam ligações com espanhol investigado por lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, terrorismo e envolvimento com a máfia italiana
Informações repassadas ao El Piauí, dão conta de que a Polícia Federal, está preparando uma mega operação que deverá ser deflagrada nos próximos dias no Estado do Piauí. O motivo seria a grilagem de terras no litoral do Estado, com foco na Praia do Macapá e Maramar, onde empresários estariam se apropriando indevidamente de terrenos e expulsando os nativos do local.
A operação deverá abranger as cidades de Luís Correia, Ilha Grande, Parnaíba e Teresina. Um dos focos abordado nas diligências é o tráfico internacional de drogas. A PF detectou a ligação dos supostos grileiros com o empresário espanhol Juan Ripoli Mari, investigado em diversos outros estados, acusado de tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e fraude fiscal. O empresário também teria ligações com a máfia italiana.
No último dia 17 de maio, o El Piauí divulgou uma reportagem tratando sobre acusações que estão feitas a um empresário, uma advogada e um delegado da Polícia Civil do Piauí. Eles estariam atuando em conluio para se apropriarem de terras na Praia do Macapá, em Luís Correia. Moradores entraram em confronto com os supostos proprietários e acionaram o Ministério Público para atuar no caso.
Leia mais: Empresário, advogada e delegado são acusados de se apropriarem de terrenos no litoral do Piauí
Nas imagens obtidas pela reportagem, é possível observar a placa de uma Hilux (NUV-5629), em que o empresário Mauri Ferreira aparece. O veículo, após checagem no sistema do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), está vinculado à empresa JRM Empreendimentos Imobiliários e Participações Ltda., de propriedade de Juan Ripoli Mari, um dos alvos da PF.
As ligações de Ripoli com o Piauí
O empresário espanhol alvo da Polícia Federal possui ligações com outros empresários piauienses que atuam nesta região do litoral. Ripoli estaria tocando seus negócios em conjunto com Mauri Ferreira e Christiano Amaral de Oliveira.
Mauri e Christiano são sócios e proprietários de uma série de empresas que atuam no segmento imobiliário em todo o Piauí. Mauri é sócio majoritário de pelo menos 12 empresas, com sede em diversas cidades, entre elas, Teresina, José de Freitas, Parnaíba e Aparecida de Goiânia (GO).
Um fato curioso é a relação de extrema proximidade entre o trio. Ripoli, de acordo com documento obtido pela reportagem, ‘passou’ terras para Christiano como uma forma de compensação de uma ação trabalhista. As terras ficam no município de Luís Correia e os trâmites ocorreram no Cartório Francisco Pereira, no 1º Ofício de Notas e Registro de Imóveis.
Mas as coincidências não param por aí. Ripoli e Christiano possuem empresas no mesmo endereço, situadas em Ilha Grande (PI). A Ilha Grande Investimentos Imobiliários S/A e a World Ecologic Center Projetos Turísticos e Ecológicos S/A funcionam na Avenida Martins Ribeiro, 4645, bairro Labino, em Ilha Grande (PI). A primeira é de propriedade de Ripoli e a segunda de Christiano.
Outro fato curioso está no quadro societário, onde Aladia Cirqueira Pinto Pontes Machado aparece. Ela integra a sociedade nas duas empresas. A primeira, possui um capital social de R$ 3 milhões; já a segunda possui capital social de R$ 2,6 milhões.
Nativos estão aterrorizados
A população local segue aterrorizada, desde que se iniciou uma série de eventos conflitantes, entre os suspeitos de grilagem e os nativos, os moradores passaram a não ter mais sossego. Preocupados, com medo de perderem suas casas e seus locais de trabalho, eles iniciaram vários contatos em busca de proteção. Em alguns casos, moradores possuem mais de 30 anos residindo no local.
Em nota, a Associação de Moradores de Desenvolvimento da Comunidade Macapá, informou que o local é alvo constante de especulação imobiliária, e que os moradores foram surpreendidos com a ‘visita invasiva de empresários, que alegaram ter a propriedade da terra, exigindo que os moradores se retirassem do local, causando medo, insatisfação e deixando a comunidade acuada, uma vez que alegaram está amparado por lei’.
Ainda de acordo com a nota, a área em disputa está inserida em um trecho de Preservação Permanente. (Leia a íntegra da nota ao final da reportagem).
A expectativa é de que diligências sejam deflagradas nas próximas semanas. Empresários e falsos empresários estão na mira. Os nativos possuem vídeos, gravações e um farto acervo documental que garante a propriedade das terras, diferentemente do que alegam os suspeitos.
Litoral do Piauí na rota do narcotráfico
Uma das grandes preocupações dos nativos além da apropriação irregular por parte dos suspeitos de grilagem, é o retorno do litoral piauiense à rota do tráfico internacional de drogas.
Em 2012, uma operação da Polícia Federal em parceria com a Capitania dos Portos, apreendeu um veleiro com 270kg de cocaína em Luís Correia. A droga tinha como destino a Europa. Na ocasião, cinco pessoas foram presas, entre elas, dois italianos e um português, além de dois brasileiros. À época, a droga foi avaliada em R$ 51 milhões.
Na última semana, a PF prendeu em João Pessoa (PB), o italiano acusado de fazer parte de uma das maiores organizações criminosas do mundo. Rocco Morabito era um dos homens mais procurados da Europa, conhecido como o rei da cocaína em Milão.
Além de Piauí e Paraíba, a PF informou que toda a costa nordestina é tida como uma das principais rotas de tráfico internacional de drogas, devido principalmente a proximidade com a Europa, principal mercado consumidor.
Leia abaixo a íntegra da nota emitida pela Associação de Moradores de Desenvolvimento da Comunidade Macapá:
Nós da Associação de Moradores de Desenvolvimento da Comunidade Macapá, vimos através desta para formalizar denuncia em relação a invasão de terras na localidade Macapá, comunidade de Luís Correia Piauí.
Somos uma Associação legitimada, amparada por estatuto, que vem há mais de 30 anos lutando pelo desenvolvimento do Macapá. Somo a favor do crescimento local, mas de forma sustentável, propondo e construindo coletivamente um desenvolvimento local, atrelado a sustentabilidade, garantia dos recursos naturais e garantia dos direitos e deveres dos comunitários.
A praia do Macapá localizada no município de Luís Correia, estado do Piauí, ainda é pouca conhecida, e próxima a praia da Barra Grande em Cajueiro da Praia, separada pelo rio Camurupim.
Macapá é uma vila de pescadores, comunidade tradicional, que hoje vem sofrendo além dos fatores ambientais que afetam diretamente as mudanças ambientais, aumento do nível das águas, vem sofrendo com constante especulação imobiliária. Onde pessoas vindo de outras localidades estão tomando “posse” das terras, retirando os direitos garantidos pela constituição dos moradores da localidade.
A citada área, está inserida em Área de Preservação Permanente, mas é importante salientar, que maior parte das populações tradicionais está localizada em unidades de conservação. Neste sentido deve-se buscar um mecanismo para fazer ponderação dos valores e interesses presentes (meio ambiente e território das populações tradicionais) para a solução desse conflito. Um conjunto de pesquisas realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento têm demonstrado a viabilidade e o interesse em proteger e manter esses povos nos seus territórios tradicionais, mesmo quando inseridos em Unidades de Conservação de Proteção Integral.
No ultimo final de semana entre os dias 14 e 15, os comunitários foram vitimas de total improcedência, na qual recebemos a visita invasiva de empresários, que alegaram ter a propriedade da terra, exigindo que os moradores se retirassem do local, causando medo, insatisfação e deixando a comunidade acuada, uma vez que alegaram está amparado por Lei.
É importante salientar, que a associação aqui manifestada, já protocolou diversos documentos solicitando a garantia dos direitos. Além de possuir provas documentais da ancestralidade da comunidade no referido local.
Assim, a Associação Comunitária de Desenvolvimento da Localidade Macapá, vem por meio desta manifestação solicitar a total improcedência das ações cometida contra nosso povo, solicita ainda verificação documental da legitimidade da posse da propriedade, bem como sejam realizada oitivas dos envolvidos, e que sejam consideradas a narrativa fática aqui apresentada e os próprios processos administrativos em curso.