Porto recebe R$ 1 milhão de Bolsonaro, mas deixa faltar remédios para Covid-19
Câmara Municipal ainda aprovou crédito de R$ 200 mil, mas população não recebe medicação nos postos de saúde
Para qual local o prefeito Dó Bacelar (Progressistas) e o secretário de Saúde de Porto (PI), Murillo Sotero, alocaram o valor de R$ 1.127.701,00 (um milhão, cento e vinte e sete mil, e setecentos e um reais) destinados pelo Governo Bolsonaro para o enfrentamento ao coronavírus na cidade?
Os moradores do município que testam positivo para o novo coronavírus, principalmente os mais pobres, estão sendo obrigados a se isolarem em suas residências sem qualquer tipo de tratamento especializado a base de medicação.
Diversos municípios, a exemplo de Teresina, estão receitando a Ivermectina e Aztromicina, além de outros medicamentos que auxiliam na redução do impacto dos efeitos provocados pelo vírus, como por exemplo, febre e dores no corpo.
Uma paciente que testou positivo procurou a reportagem do El Piauí e denunciou que o médico Antônio Bruno Mychael O. Carvalho, CRM-7424, receitou seis medicamentos, entre eles, Aztromicina, Ivermectina, Paracetamol e Vitamina C. Contudo, o único remédio que está sendo fornecido pelo município é a Ivermectina e em quantidade limitada por paciente.
“Fiz o exame e deu positivo. Me dirigi até a Secretaria de Saúde e o que consegui foram quatro comprimidos de Ivermectina. Se a verba tá entrando no município e todos sabem que tem muita gente infectada, pra onde está indo se nem remédio temos direito? O que me falaram é que eu compre o remédio, e eu não quero comprar, eu quero é receber da Secretaria. Eu tenho direito que a Secretaria me forneça a medicação”, disse a paciente.
“A pessoa já está lascada, doente, sem trabalhar, aí você chega lá eles mandam a gente comprar o remédio, uma lista dessa”, desabafou.
VICE-PREFEITO E VEREADORES CONTAMINADOS
A situação da cidade de Porto não é das melhores entre os municípios do Estado Piauí. Segundo o boletim divulgado neste sábado (11), foram notificados 478 casos, sendo que destes 160 foram confirmados. Até o momento o município registrou três óbitos. 125 casos estão ativos.
O vice-prefeito da cidade, Elias Pessoa Sobrinho, do Progressistas, foi diagnosticado com o vírus. Além dele, os vereadores João Elton, Antônio Geronço (ex-prefeito), Marcelino CPT e Edileusa Carvalho já foram diagnosticados com o novo coronavírus.
Além do recurso de R$ 1 milhão recebidos do Governo Federal, o município de Porto aprovou um crédito adicional de R$ 208.550,39. Os vereadores Antônio Geronço, Lourdes Sousa, Edileusa Carvalho, João Bacelar e Aluizio Vaz votaram favoravelmente. O vereador Marcelino votou contrário ao pedido do executivo e os vereadores Antônio Viviva e Toim se abstiveram da votação.
“Foi aprovado o decreto que autoriza ações de enfrentamento ao Covid-19, no valor de R$ 208.550,39 (duzentos e oito mil, quinhetos e cinquenta reais e trinta e nove centavos), colocando em pauta em regime de urgência pelo presidente vereador João Elton. Ele se refere à ações e gastos com diárias, materias de consumo, EPI, material de limpeza, material hospitalar, medicamentos, combustível, materiais usados no combate direto, material permanente e equipamentos”, diz trecho da nota publicada no perfil oficial da Câmara Municipal de Porto.
MEDICAÇÃO AINDA CAUSA CONTROVÉRSIAS
Em busca por alternativas para a prevenção e o tratamento do coronavírus, diversas pessoas, inclusive autoridades, têm aderido aos “kits Covid-19”, que contêm medicamentos como ivermectina e azitromicina. No entanto, ainda não há estudos que comprovem a eficácia desses remédios em relação à doença que abalou o planeta.
O cardiologista Maurício Nunes alertou que somente infectologistas ou pneumologistas podem prescrever medicamentos para o combate à Covid-19. “Nunca vi surgirem tantas pessoas entendidas sobre o coronavírus como agora. Além da automedicação, há diversas especialidades médicas prescrevendo o kit com ivermectina e azitromicina. Isso é extremamente preocupante”, destacou o médico em entrevista ao UOL.
Como ainda é um fenômeno muito recente, ainda não é possível mensurar as consequências dessa automedicação. Mesmo assim, essa postura é totalmente desaconselhada pelos especialistas.