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Homem morto por PM acreditava que arma era de brinquedo

Cabo Manoel de Jesus Fernandes, preso em flagrante acusado de matar Antônio Bernadino de Oliveira e Deusimar Gomes Siqueira, foi posto em liberdade na última quinta-feira (4).

A família de Antônio Bernadino de Oliveira, de 48 anos, assassinado a tiros em Teresina, em fevereiro deste ano, disse estar inconformada com a soltura do acusado, o cabo da Polícia Militar Manoel de Jesus Fernandes. Segundo os familiares, a vítima achava que a arma não era de verdade.

O policial, preso em flagrante após o crime, foi posto em liberdade na última quinta-feira (4), por um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. A defesa do PM não foi localizada.

O cabo Manoel de Jesus Fernandes é acusado de matar Antônio e Deusimar Gomes Siqueira, de 43 anos, durante uma briga em um bar no bairro Alto da Ressurreição, na Zona Sudeste da capital, na madrugada do dia 26 fevereiro. Ele também teria baleado um mototaxista e tentado ferir uma atendente.

Procurada, a Polícia Militar do Piauí informou que a Corregedoria continua investigando o caso. Na esfera administrativa, o cabo Manoel de Jesus Fernandes pode responder pelo duplo homicídio, por meio de um procedimento denominado Conselho de Disciplina.

A audiência de instrução e julgamento do policial está prevista para o dia 17 de agosto, às 8h30, na 2ª Vara do Tribunal Popular do Júri de Teresina da Comarca de Teresina, no Fórum Cível e Criminal Desembargador Joaquim De Sousa Neto.

Famílias unidas pela dor da perda

Segundo a sobrinha de Antônio, a vendedora e personal trainer Carla Beatriz de Oliveira, de 26 anos, a família organiza um protesto para a data da sessão.

“É muita injustiça. Muita comoção, muita revolta, muito choro e inconformidade. Estou desesperada junto com minha família, clamando por justiça. Não cai a ficha que uma pessoa tão legal, tão honesta, trabalhadora e íntegra se foi assim”, disse.

“Sabemos que o Deusimar também era trabalhador, era pedreiro, vivia com a irmã, que agora passa por dificuldades financeiras porque ele era o pilar da família. A gente tem entrado em contato pra se unir, ganhar forças. É a mesma dor, o mesmo sofrimento, a mesma sensação de impunidade. Vamos estar juntos no dia”, contou Carla.

Mãe faleceu um mês após o filho

Ao g1, Carla relatou que a mãe da vítima, de 83 anos, ficou bastante abalada com o assassinato do filho e morreu 30 dias depois.

“Minha vó veio pro velório, pras missas que a gente fez e não aguentou. Ela começou a passar mal exatamente um dia após a visita de 30 dias. A pressão foi baixando, baixando, até que ela não acordou mais. A gente chamou ambulância, levou ao hospital, o médico disse que foi de causas naturais. Foi muita pressão pra ela, por conta da idade, perder um filho do jeito que foi”, relembrou a sobrinha de Antônio.

Carla esteve no local do crime, na madrugada de 26 de fevereiro, e conversou com testemunhas. Horas antes, ela havia se despedido do tio. Foi a última pessoa da família a ter contato com Antônio.

“Me lembro como se fosse hoje. Todo dia ele acordava 5h e 5h50 ele saía de casa pra trabalhar. Por volta do meio-dia, ele veio em casa almoçar. Depois retornou pro trabalho. Quando foi umas 17h30, ele veio em casa, tomou banho, se arrumou. Se despediu de mim, montou na moto e foi. Gostava muito de se divertir, beber uma cervejinha no final de semana pra desopilar. Jamais imaginei que fosse me dar um tchau, sair e só voltar pra casa morto”, disse.

PM chegou ao bar armado e embriagado

Na ocasião, o coordenador do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Francisco Costa, o Barêtta, confirmou que o policial estava de folga e teria chegado ao bar já alcoolizado, portando uma pistola 9 milímetros.

“O que me informaram foi que esse policial já estava lá, desde cedo, abusando, dizendo que ia pipocar uma pessoa, ameaçando com arma. Todas as testemunhas disseram que ele estava transtornado. E que meu tio, como não era uma pessoa de violência, dizia ‘não, gente, essa arma é de brinquedo, ele não vai fazer nada não’, que não era pra dar atenção pra ele. Me disseram que antes de matar meu tio, o assassinou falou ‘tu tá dizendo que essa arma aqui é de brinquedo? Pois toma’ e atirou”, relatou.

À Polícia Civil, a dona do estabelecimento informou que, antes dos assassinatos, já havia ligado para o 190 e duas viaturas tinham passado pelo local, mas não haviam parado. O intuito era denunciar a desordem e as ameaças feitas pelo cabo Manoel de Jesus Fernandes.

“Já tinham ligado desde cedo pra irem nesse bar. Um senhor que tava lá disse que saiu nas ruas procurando uma viatura e achou. Quando ele saiu, não tinha morrido ninguém. Falou ‘tem um policial lá no bar, isso, isso e isso, armado’ e a viatura foi, tanto que ele foi preso em flagrante”, disse Carla.

No caminho, os policiais da viatura que atendeu a ocorrência chegaram a ouvir os disparos. Ao se aproximarem, encontraram o militar com a pistola na mão, guardando na cintura e tentando ligar a motocicleta para fugir.

Conforme a família, a Polícia Militar do Piauí não chegou a prestar assistência direta ou manifestar condolências após o crime.

“É muito triste, muito revoltante ver que a justiça pra quem é inocente não existe. Mas pra quem é bandido, é assassino, a justiça tá bem aí. Infelizmente os que morreram não voltam mais, estão presos pra sempre e quem matou tá em liberdade. E ninguém sabe se daqui um tempo ele vai beber de novo e vai matar outras pessoas”, declarou Carla.
Para a sobrinha, lembrar da personalidade extrovertida e amorosa do tio serve como um incentivo na luta por justiça.

“Era uma pessoa maravilhosa, sinônimo de trabalho e honestidade. Ele trabalhava com gesso, forros, era conhecido como Antônio do Gesso. Eu falo muito dele porque ele morava aqui na minha casa, tanto que além de meu tio, considero ele meu segundo pai. Também era um avô incrível, tinha acabado de ter sua primeira netinha, era apaixonado por essa netinha e não teve a oportunidade de ver o primeiro aninho dela agora no dia 28 de julho”, lamentou.

“Um pai apaixonado pelos dois filhos que tinha, um irmão presente na vida dos seus 10 irmãos, o tio preferido de todos os sobrinhos. Inclusive dois sobrinhos trabalhavam na equipe dele e agora seguem dando continuidade ao seu trabalho”, completou a sobrinha de Antônio.

Duplo homicídio e duas tentativas de homicídio

Manoel de Jesus Fernandes, de 51 anos, foi indiciado por duplo homicídio e dupla tentativa de homicídio. Ele é suspeito de matar dois homens, balear um mototaxista e tentar ferir uma atendente durante uma briga em um bar no bairro Alto da Ressurreição, Zona Sudeste de Teresina.

O policial responde por duplo homicídio de Antônio Bernadino de Oliveira, de 48 anos e Deusimar Gomes Siqueira, de 43 anos, que foram baleados e morreram no local.

Ele responde ainda por duas tentativas de homicídio, contra um mototaxista, que foi baleado no braço, e contra a atendente do bar, que foi ameaçada. Ele teria ainda atirado na direção dela, mas o tiro não a atingiu.

O crime ocorreu em 25 de fevereiro de 2022. O fato aconteceu em um bar, localizado em frente à escola Mário Covas, na rua Professora Alcira de Carvalho, por volta da meia-noite.

Segundo o delegado Bruno Ursulino, responsável pela investigação, o cabo Manoel de Jesus enfrenta problemas com o álcool. Por este motivo, o policial foi afastado das atividades externas da corporação.

“Ele responde a vários processos administrativos e teve a arma confiscada. Atualmente, o cabo trabalhava no setor administrativo do 8º Batalhão da PM. No dia do crime, eles estava com uma arma de uso particular e de folga”, explicou Bruno Ursulino.

Decisão do STJ

O acusado foi posto em liberdade na quinta-feira (4), por um habeas corpus concedido pelo Superior Tribunal de Justiça. O documento foi concedido na última segunda-feira (1º).

Na decisão, o desembargador Olindo Menezes escreve que a prisão preventiva do policial “sustentou-se em decreto abstrato, cujos fundamentos não detalham nenhum fato concreto ocorrido, tampouco especifica os indícios de autoria e materialidade”.

Fonte: g1piauí.com

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