Política

Bolsonaro teme que escândalo sobre dinheiro alcance eleitores indecisos

Bolsonaro e sua família compraram 51 imóveis com dinheiro vivo.

Após minuciosa investigação do UOL apontar que ele e sua família compraram 51 imóveis com dinheiro vivo, Jair Bolsonaro usou seu horário de propaganda eleitoral na TV para atacar a reportagem. Sobre as evidências de lavagem de dinheiro e de origem ilícita dos recursos, contudo, nenhuma palavra. Mostra, dessa forma, o medo que tem de a denúncia atingir os eleitores indecisos.

Acusando a apuração de Thiago Herdy e Juliana Dal Piva de cometer um erro primário, confundir “moeda corrente” com dinheiro vivo, a peça publicitária é uma transposição para a TV da estratégia que vem sendo adotada pelo presidente nas redes sociais e aplicativos de mensagem.

Ou seja, usar uma mentira para criar uma dúvida que possa ser explorada pelos seus seguidores fiéis junto aos indecisos – para quem a informação pode definir voto. Aposta que, como muita gente não teve acesso à reportagem inteira, acaba ficando um lado contra o outro.

Bolsonaro vem batendo no peito que ele e seu governo são incorruptíveis, apesar das denúncias de apropriação de salários de servidores, de cobrança de propina para a compra de vacina ou de pastores indicados por ele pedirem barras de ouro para dar acesso ao Ministério da Educação.

O próprio Bolsonaro adotou pessoalmente a estratégia, na última terça (6), ao ser questionado por Amanda Klein, durante sabatina na Jovem Pan, sobre os recursos. Ao invés de responder sobre a origem de seu patrimônio e o de sua família, devolveu com um questionamento machista sobre a vida pessoal da jornalista, que é casada com um simpatizante do presidente.

“Você é casada com uma pessoa que vota em mim. Não sei como é o teu convívio com ele na sua casa”, afirmou. Mais uma cortina de fumaça para a coleção do presidente, desta vez temperada com o amargor da misoginia.

Desde a década de 1990 até agora, foram 107 imóveis negociados por ele e sua família, dos quais 51 adquiridos total ou parcialmente com grana em espécie, segundo declarações dos próprios envolvidos, consultadas em cartórios pelos jornalistas e checadas através de entrevistas e de consultas a processos judiciais. Em valores corrigidos, isso dá R$ 25,6 milhões.

Não é necessário ser um gênio das finanças para entender que o uso de grandes quantias de dinheiro vivo na compra de imóveis é uma forma usada para lavar recursos de procedência ilegal. Normalmente, a prática é usada por traficantes, milicianos, golpistas e organizações criminosas a fim de evitar que órgãos do governo, como o Coaf, identifiquem operações estranhas e as investiguem.

Foi numa “movimentação atípica”, que veio a público no final de 2018 através de matéria no jornal O Estado de S.Paulo, que ficamos sabendo que o gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro usava funcionários fantasmas que repassavam parte de seus salários de volta ao clã, através do assessor Fabrício Queiroz. O escândalo ficou conhecido como “rachadinha”, mas é corrupção mesmo.

Investigações publicadas no UOL mostraram que esse dinheiro era sacado em grandes quantias e ia se convertendo em imóveis. O gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro também apareceu no esquema, que teve de tudo, até repasse de recursos à família de um dos mais temidos milicianos do Rio de Janeiro, Adriano da Nóbrega.

O presidente que defende tanto a “transparência” nas eleições deveria usar o tempo que a Justiça Eleitoral garantiu a ele na TV para explicar de onde vem o dinheiro com o qual ele e seu clã compraram tantos imóveis. Isso pode ser redentor para o Brasil.

Sobre isso, sugiro a ele o Evangelho de João, capítulo 8, versículo 32: “Conhecerei a verdade e a verdade vos libertará”.

Fonte: piauíhoje

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