Bolsonaro contribui nos ataques às urnas na reta final do 1º turno
Levantamento aponta que mobilização de bolsonaristas nas redes recrudesceu à medida que cresce o movimento pelo voto útil, com a possibilidade de vitória de Lula já no próximo domingo.
Os ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral, que vinham diminuindo nas redes sociais desde a véspera dos atos bolsonaristas do 7 de setembro, cresceram na reta final da campanha — e o principal agitador foi Jair Bolsonaro.
É o que mostra um monitoramento realizado por Djiovanni Marioto, doutorando em ciência política e pesquisador em internet e política da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sobre os conteúdos postados nas redes sociais de 22 de agosto até a última quarta-feira (28).
A alta coincide com a divulgação dos resultados de pesquisas de intenção de voto mostrando que há uma possibilidade de Lula ganhar a eleição já no primeiro turno. Os ataques recrudesceram à medida que crescia o movimento pelo voto útil.
O levantamento coordenado por Mariotto utilizando ferramentas de big data analisou termos relacionados ao processo eleitoral no Facebook, Twitter e YouTube, e constatou que há um alinhamento entre as publicações de Bolsonaro e os ataques realizados por endereços da direita nessas plataformas.
É o chamado “comportamento de manada”, que se espalha nas redes bolsonaristas a partir das mensagens disparadas pelo próprio presidente da República.
A partir da última segunda-feira (26), quando foi divulgada a pesquisa Ipec apontando Lula como favorito a vencer no primeiro turno, ganhou força a disseminação de fake news que desacreditam a segurança das urnas.
No mesmo dia, em entrevista à RecordTV, Bolsonaro disse que só aceitará o resultado das urnas em caso de “eleições limpas” – mesmo malabarismo retórico que usou na sabatina do Jornal Nacional, em agosto, para não se comprometer com o reconhecimento de uma eventual derrota.
Um vídeo que tomou as redes bolsonaristas no dia seguinte mostrava urnas sendo preparadas para a eleição na cidade de Itapeva, no interior de São Paulo. O fato de o trabalho estar sendo feito em um espaço alugado de um sindicato serviu à teoria conspiratória de que os equipamentos estariam sendo programados pelo PT.
Outros conteúdos muito repetidos falam da suposta “sala secreta” para a totalização dos votos no TSE, boato já desmentido pelo tribunal — a sala em questão foi exibida para a imprensa na última quarta; o questionamento do então candidato derrotado Aécio Neves (PSDB) ao resultado da eleição de 2014, vencida por Dilma Rousseff (PT); e a defesa constante do voto impresso por Bolsonaro.
Segundo o levantamento da UFPR, no período pesquisado, esse tipo de mensagem só fica atrás das menções a Lula e Jair Bolsonaro no ranking de assuntos mais comentados. Em números: foram 374.328 menções aos ataques às urnas, atrás apenas de Bolsonaro (1.003.923) e do presidenciável do PT (548.274).
“Ao observar um período maior (pouco mais de 2 semanas), percebemos que mesmo com o crescimento dos apoios e menções aos candidatos à esquerda, ainda são bem menores que as manifestações em favor do Bolsonaro, mostrando a movimentação da direita dentro dos ambientes digitais”, frisa o relatório da pesquisa.
Apesar do dado preocupante, porém, os pesquisadores do Paraná detectaram um movimento diferente do que costumava acontecer em outros tempos: o pico de ataques também gerou uma onda de apoio às urnas, em uma espécie de contranarrativa.
Nas publicações compiladas nas últimas duas semanas, por exemplo, o levantamento identificou 46% de menções em defesa das urnas, contra 45% de citações negativas.
Mensagens se multiplicaram nas redes e superaram os ataques à segurança do sistema eleitoral no dia 19, justamente após a divulgação do resultado da pesquisa Ipec mostrando a subida de Lula. Neste dia, foram identificadas 131 menções positivas (além de 99 negativas e 27 neutras). Essa reação a favor da segurança das urnas é chamada por Marioto de contranarrativa.
“Só pode ser gado para fazer um comentário desse. Essas mesmas urnas elegeram o seu presidente e a familícia (sic). Agora que vão perder, não confiam nela. Sei… Conta outra”, escreveu um usuário do Facebook em resposta a um bolsonarista que disse não confiar “nem um pouco” nas urnas.
Um exemplo didático da engrenagem bolsonarista é o pico de menções negativas (116, contra 95 positivas e 15 neutras), dois dias depois, quando foi divulgada uma pesquisa Datafolha reforçando a liderança do PT nas pesquisas. A mobilização maciça para desacreditar o levantamento alimentou a teoria de que Bolsonaro será eleito no primeiro turno, o que só não ocorreria em caso de fraude nas urnas.
“Ou os institutos de pesquisas estão contando com fraudes nas urnas e no sistema de contagem dos votos, ou estão totalmente desencontrados (sic) com a realidade dos fatos. O que mostram as ruas é a vitória de Jair Bolsonaro no 1º turno e com margem ampla, acima dos 60% dos votos válidos”, diz uma das mensagens colocando em xeque as eleições, publicada no Twitter por um perfil bolsonarista.
O monitoramento também aponta que os seguidores do presidente da República reduziram as provocações aos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e passaram a se concentrar nos ataques ao TSE como um todo, em uma tentativa de desacreditá-lo enquanto instituição às vésperas do primeiro turno. Apesar dessa tática paralela, as urnas eletrônicas ainda continuam sendo o principal foco de ataques.
O levantamento não incluiu a repercussão do vazamento de um parecer do PL, partido de Bolsonaro, questionando a segurança das urnas eletrônicas. O documento foi duramente rebatido pelo TSE, que reafirmou a inviolabilidade das máquinas. Moraes, presidente do tribunal, pediu a responsabilização criminal de seus autores.
Fonte: oglobo