Beth Cuscuz é candidata para tipo de voto que não existe no PI
Candidata emedebista quer sensibilizar eleitores com seu apelido que a vincula a uma dos mais conhecidas casas de prostituição do Estado
Elisabeth Lourdes Ferreira de Oiveira apresenta-se hoje como uma pacata comerciante. Pessoa evangélica, temente a Deus. Mas nem sempre foi assim.
A mulher conquistou fama por outro motivo. Era conhecida como beth Cuscuz, dona de um dos prostíbulos mais famosos do Nordeste.
Grandes personalidades passaram pelo lugar. Jogadores de futebol, atores, comerciantes, políticos, industriais.
Não faltava gente com dinheiro e vontade de gastar. Num dado momento, Beth Cuscuz foi acusada de fornecer drogas para seus clientes.
A denúncia, na época, foi feita pelo apresentador de TV Donizetti Adauto. Foi um verdadeiro escarcéu no mundo político piauiense.
O Rio Poty Hotel estava sediando naquele exato momento um evento da maior importância reunindo políticos de todos os partidos. A grande maioria correu em auxílio da cafetina.
Isso ilustra a extensão de sua influência. Hoje, Beth Cuscuz quer adentrar na mesma seara dos seus antigos benfeitores.
QUER SER VEREADORA
Pretende ser vereadora de Teresina. Filiada ao MDB, está em plena campanha. Apresenta-se como professora.
Numa reunião de apoiadores, o ex-candidato a vereador José Benone de Sousa Paiva, o Cobra Choca, disse que todos os professores e alunos “devem se curvar ao talento e à capacidade de dona Beth.”
A mulher apela para um tipo de voto que nunca deu certo no Piauí. É o voto de folclore, de apoio a personagens inusitados.
Muitos antes dela já tentaram sem sucesso. Um deles foi Francisco das Chagas Costa Oliveira, o Quem Quem.
Candidato a prefeito em 2004, fazia esquetes como o personagem Chapolin Colorado. Ficou famoso ao obter 30.535 votos e bater candidatos como Flora Izabel (PT) e Robert Rios (na época filiado ao PC do B).
Mas não passou disso. Nos pleitos seguintes ele tentou ser deputado estadual e vereador de Teresina de maneira infrutífera.
Outro que se apresentou como figura folclórica foi o oficial da Polícia Militar do Piauí, Avelar Pereira. Ele foi candidato a governador, prefeito de Teresina, dentre outras disputas.
Pertencente ao PSL na época. Apresentava-se na campanha com um rolo de fumo enrolado no pescoço. Noutra campanha falou sobre um certo panelão.
A bem da verdade, disse Avelar, que era capitão no início da carreira política, o objetivo sempre foi chamar a atenção do eleitor, sendo engraçado. Porque, para ele, o horário eleitoral é muito chato.
Então o eleitor precisa de atrativo para permanecer. Avelar disse numa entrevista ao 180 graus em 2008 que não tinha medo de sua credibilidade ser afetada porque o eleitor entendia seu objetivo.
RINOCERONTE CACARECO
O voto folclórico dá muito certo em São Paulo (SP). Seja por revolta ou fadiga dos nomes tradicionais, o eleitor paulistano sempre dá um jeito de protestar.
Isso aconteceu no pleito de 1959. Na época, cerca de 100 mil votos foram atribuídos à rinoceronte fêmea Cacareco.
Cacareco foi um dos mais famosos casos de voto de protesto ou voto nulo em massa da história da política brasileira, uma vez que se tornou a “personalidade” mais votada do pleito: o partido mais votado na época não chegou a 95.000 votos.
Em 2002, o médico e professor Enéas Carneiro, que aparecia no programa eleitoral com fala ligeira e o bordão “Meu nome é Enéas” conquistou cerca de 1,57 milhão de votos. Levou consigo vários candidatos menos votados (outro ato folclórico), um deles foi o médico Vanderlei Assis de Souza. Ele obteve apenas 275 votos.
Depois aconteceria a mesma coisa em relação ao palhaço Tiririca. Em 2010, Francisco Everardo Oliveira, seu verdadeiro nome, obteve 1.348.295 (6,35% dos votos) para a Câmara Federal. (Toni Rodrigues)