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Juiz concede liberdade a jovem negro, após uma semana preso

Wilian da Silva Alves, de 19 anos, foi preso suspeito de assaltar a mão armada um comércio, na última terça-feira (17), em Cocal. Defesa alega inocência e reúne provas de que o rapaz não estava no local na hora do crime.

O Juiz da Vara Única de Cocal, Manfredo Braga Filho, após solicitação dos advogados de defesa, revogou a prisão preventiva do jovem Wilian da Silva Alves, de 19 anos, e determinou que fosse expedido alvará de soltura em favor dele. Ele conseguiu liberdade provisória nessa segunda-feira (23).

Em vídeo divulgado pela família e pela defesa do jovem, a mãe do rapaz esperava emocionada na porta da Penitenciária Mista Fontes Ibiapina, esperando a saída do rapaz. Sob forte emoção e entre lágrimas, o jovem abraçou ao mãe ao sair da prisão. Familiares e amigos acompanharam a saída comemorando com aplausos.

Segundo a defesa, o caso ainda está sob investigação e ele não está absolvido, o que vai depender do inquérito na Polícia Civil, que vai determinar se ele será indiciado ou não. Em caso positivo, o Ministério Público poderá ou não formalizar denúncia à Justiça. Caso não seja indiciado, o rapaz não terá mais pendências criminais.

A defesa alega inocência e reuniu provas como prints de conversas e imagens de câmeras de segurança que mostram que Willian não estava sequer próximo do local do assalto no momento do crime.

Protesto pediu soltura

Familiares de Wilian realizaram uma manifestação em Buriti dos Lopes, na manhã de sexta-feira (20), para defender a inocência dele. O jovem negro foi preso suspeito de assaltar um comércio, na última terça-feira (17), no município de Cocal, Norte do Piauí.

Segundo a Polícia Civil, Wilian foi preso em flagrante, depois que a vítima supostamente o reconheceu como um dos autores do crime. Câmeras de segurança registraram o roubo (veja abaixo).

O crime

Nas imagens, é possível observar que três homens e uma mulher chegam ao comércio em duas motocicletas, às 12h16 da terça (17). Eles conversam rapidamente e, em seguida, saem do local.

Menos de um minutos depois, um dos homens e a mulher retornam ao estabelecimento em uma motocicleta. Ele desce da motocicleta, entra no comércio e ela o aguarda. Após realizar o roubo, às 12h19, o rapaz sai com uma arma de fogo em punho, aponta para a vítima, sobe na garupa e a dupla foge.

Momentos depois, Wilian foi encontrado em uma praça da região e preso. De acordo com os familiares, no entanto, o jovem não teve envolvimento com o crime.

O que dizem a família e advogados

Em vídeo nas redes sociais, a mãe de Wilian, Maria José da Silva Alves, relatou que o filho mora em Buriti dos Lopes e estava em Cocal à procura de emprego e em visita à namorada. Na praça em que foi encontrado, ele estaria esperando um amigo, que o levaria de volta à cidade natal.

“Meu filho tem uma namorada no interior do Cocal. Então vivia colocando currículo lá, nos comércios. Domingo (15) meu filho tinha uma entrevista, só que não pode chegar na hora porque, no sábado (14), tinha ido trabalhar de garçom a noite todinha, em Parnaíba. Chegou em casa umas 7h, não deu tempo ir pra entrevista, que era 8h”, relembrou.

“Quando deu de tarde, ele foi pra casa da namorada. Na segunda (16), meu filho foi botar currículo. Na terça (17), quando meu filho vinha embora, a moto dele quebrou. Então ele ligou pra um amigo dele que tem carro. O amigo disse que era pra ele ir pra praça, que ia pegar ele lá. Meu filho se sentou, ficou com o capacete. Como a moto quebrou, ele ia trazer só o capacete”, contou emocionada.

O capacete preto que Wilian segurava foi, conforme os advogados Batista Filho Júnior e Bruno Portela, utilizado pela vítima como suposta evidência criminal, no processo de reconhecimento. Eles questionam o método.

“O reconhecimento que a vítima teve sobre nosso cliente é totalmente injusto e ilegal. Colocaram ele e mais três pessoas, todos muito parecidos: pequenos, negros, que usavam brinco. E o principal reconhecimento foi o capacete preto. Capacete preto todo mundo tem em casa”, defendeu o advogado Bruno Portela.

Ao g1, os advogados informaram que entraram na Justiça com um pedido de liberdade e estão protocolando um habeas corpus em favor de Wilian.

“Conseguimos pegar a senha do celular dele e tivemos acesso às mensagens de WhatsApp, que comprovam perfeitamente que ele não estava no Centro de Cocal no momento do ocorrido. Ele estava em um interior, interior que fica a uns 10 km de Cocal. No mesmo horário [do crime], ele tava mandando mensagem pra um amigo dele, dizendo que tava almoçando, que iria retornar pra Buriti”, destacou.

“[O celular] Tem vídeos, fotos, áudios dele conversando com o mecânico e o mecânico explicando a situação da moto [quebrada] dele. A gente tá juntando também [imagens de] conversas dele mandando currículo pra duas empresas em Cocal”, completou.

Para os advogados de defesa, o caso é “triste e delicado”

“É um rapaz trabalhador, o que tá acontecendo é uma tristeza. Um caso muito delicado, muito particular. Defender um inocente é muito mais complexo e mais difícil do que defender alguém que realmente é culpado. O Wilian é um cidadão muito conceituado em Buriti, sempre frequentou a igreja, grupos de dança de quadrilhas juninas. É muito querido”, pontuou.

“No ano passado foi aprovado em 8º lugar em pedagogia na Uespi (Universidade Estadual do Piauí). Essa colocação demonstra que ele tem um histórico de ser uma pessoa de índole. Fez curso técnico no Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), sempre tirou notas boas”, concluiu.

Nesta sexta-feira (20), amigos e familiares estiveram na Praça Antônio Romão, em Buriti dos Lopes, para pedir por justiça.

O que diz a Polícia Civil e o Ministério Público

Ao g1, a Delegacia de Polícia Civil de Cocal informou que prisão de Wilian foi mantida porque a vítima “sustenta” que ele é o autor do crime. As gravações do crime, que podem comprovar se o rapaz é mesmo o assaltante, estão sendo analisadas.

“Na audiência de custódia, a prisão em flagrante foi convertida em preventiva com base nas provas existentes nos autos, naquele momento. O processo seguirá”, informou também o promotor de Justiça Tulio Ciarlini, representante do Ministério Público da cidade de Cocal.

Fonte: G1 Piauí 

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