Política

Flávio Dino se prepara para ‘eventual colapso’ de plano

Flavio Dino, do PCdoB, oficializou interesse de compra com o Instituto Butantan e ingressou com uma ação no STF para autorizar plano estudual e importação de vacinas

O governador do Maranhão, Flavio Dino, do PCdoB, afirmou que acredita que haverá um plano nacional de vacinação contra a Covid-19. Mas que para proteger o seu estado, busca alternativas caso ocorra um “colapso do governo federal” que impeça a distribuição nacional dos imunizantes. O governador afirmou que o governo Jair Bolsonaro ficou perdido na questão das vacinas, mas que agora está “tentando achar o caminho”. 

Como o senhor vê a condução do governo federal em relação à vacinação?

O problema principal é uma consequência que nós estamos vendo desde março, que é uma atitude negacionista em relação a gravidade da pandemia. Há uma terrível coerência entre aquela frase da gripezinha e a má condução da temática da vacina. Eu acho que, portanto, há confirmação de uma conduta equivocada. Houve a vinculação a uma única alternativa, que seria a vacina AstraZeneca. Na medida em que a vacina AstraZeneca/Oxford ainda não se concluiu, o governo ficou perdido. Agora, está tentando achar um outro caminho, espero que consiga.

O senhor é um crítico do governo Bolsonaro. Após pressão de governadores e prefeitos já há uma mudança na postura do governo?

O que eu vi na reunião com Ministério da Saúde foi um desejo de corrigir um erro, que foi cometido no dia 20 de outubro. Nesta data foi celebrado um acordo para que houvesse a multiplicidade de vacinas. Contudo, Bolsonaro mandou Pazuello rasgar o acordo, disse que quem mandava era ele. Acho que agora houve uma percepção de que, em um tema complexo como este, você tem que ter uma condução mais ampla. É isso que eu verifiquei até então, em face da pressão o governo vai correr atrás do prejuízo.

Qual avaliação em relação à postura do governador João Dória?

Ele está reagindo a esse ato errado do governo federal. Quando houve esse acordo do dia 20 de outubro ficou definido que o Ministério da Saúde iria comprar as vacinas do Butantã e distribuir. Depois o governo federal, por intermédio do presidente da República, disse cabalmente que não faria isso. Bolsonaro afirmou que não usaria a chamada vacina chinesa Sinovac/Coronavac. Ora, se o Dória tem o Butantan e ele tem dinheiro, não é razoável imaginar que ele deveria ficar parado em face da inércia do Bolsonaro. Eu acho que ele reagiu em reação à atitude equivocada do Bolsonaro. Por isso eu não estou entre os que criticam o Dória neste caso, porque eu acho que foi uma reação legítima a um ato errado do presidente.

Criticaram a postura do Dória na reunião com os governadores?

Há um ambiente nesse momento muito conflagrado, de parte a parte. Eu não avalio a reunião, eu avalio essa ideia. Alguns acham que ele (Dória) não deveria ter um plano pronto de vacinação. Se o governo não fez plano nacional, se ele tem condições de fazer a vacina e tem o instituto pra fazer, eu acho que não é exigível de outro governador ter que ficar parado. Eu mesmo não estou parado. Eu não estou esperando o que o Bolsonaro vai fazer porque ninguém pode atar, vincular o seu destino, a uma figura, digamos assim insólita, exótica como a do Bolsonaro. O Dória está agindo. Se tiver um plano nacional, eu acho que ele tem que sim que se quadrar. Neste momento, ele fez o certo à medida que o governo federal não conseguiu efetivar plano nacional de imunização dialogando com o Butantã, que é uma das instituições mais respeitadas do Brasil e do mundo. O governo federal quer construir um plano nacional de imunização contra o Butantan? Isso não faz o menor sentido.

O senhor disse que o Maranhão não está parado. O estado entrou com uma ação no STF para garantir compra de vacinas, sem aval da Anvisa. O estado tem um plano de ação?

Nós estamos acreditando num plano nacional de imunização. É o nosso desejo que ele se efetive com múltiplas vacinas. Ao mesmo tempo o que foi que eu adotei: um, oficializei com o Instituto Butantan o interesse do Maranhão de comprar a vacina para os grupos mais vulneráveis, comprar com nossos recursos. Dois, ingressei com ação judicial no Supremo para que me autorize, caso o plano nacional não ande, para que eu possa fazer um plano estadual, inclusive comprando vacina fora do país se for necessário. São medidas preparatórias para alternativa própria no caso de um eventual colapso do governo federal, que faço questão de frisar, espero que não aconteça. Hoje, eu acho até que vai ter um plano Nacional de imunização. Não vou ficar parado, por isso essas providências.

O que precisa ser feito por todos os atores públicos para que o Brasil supere a pandemia?

Sobretudo, o governo federal assumir seu papel de coordenação nacional, coisa que nunca aconteceu. Desde março virou uma espécie de salve-se quem puder. Essa temática da vacina não é isolada da polêmica que eu vi lá no começo sobre as medidas preventivas, depois sobre insumos e respiradores. O governo tem que ter uma atitude séria, protagonista e responsável. A Avisa precisa de 60 dias para analisar a vacina? Será que não pode fazer um mutirão e daí não consegue abreviar? Tem que ter um cardápio amplo de alternativas para que a sociedade possa se sentir mais segura, coisa que hoje não está acontecendo.

Há um problema político em torno da  vacina ou é questão de gestão administrativa?

Infelizmente, há essa visão do Bolsonaro de que todos são inimigos. Ele é uma pessoa atormentada pelos seus próprios fantasmas e seus demônios íntimos, ele não consegue juntar ninguém ao redor dele para trabalhar conjuntamente. Ele não entende relação de parceria, só relação de subalternidade e de subserviência. Claramente está pesando antipatia que ele tem pelo Dória, e nem me cabe julgar se a antipatia é justa ou injusta. E também antipatia que ele tem pela China, que é outra coisa patológica. Esses dois fatores, infelizmente, estão dificultando que o governo federal encaminhe uma solução adequada.

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