Deputado que disse ter financiado golpistas é réu por racismo
Nesta semana, Amauri Ribeiro afirmou que deveria estar preso por ter ajudado os manifestantes que estiveram acampados na porta dos quartéis; posteriormente, disse que fala foi distorcida
O deputado estadual Amauri Ribeiro (União Brasil-GO) que ganhou projeção nacional após discurso na tribuna da Assembleia Legislativa em que assumiu ter financiado os manifestantes golpistas que ocuparam os quartéis-generais do Exército após as eleições coleciona polêmicas desde antes deste episódio.
Em 2021, por exemplo, afirmou que a vereadora de Goiânia Luciula do Recanto (PSD) merecia “um tiro na cara”, o que rendeu uma investigação na Polícia Civil. Na ocasião, ele ameaçou a parlamentar, militante da causa animal, por supostamente ter invadido uma casa para salvar um cachorro vítima de maus tratos.
Eu fico ‘puto’ quando vejo uma vereadora invadindo a casa de um cidadão, igual essa vereadora de Goiânia aí, que se diz protetora de animais. Arrebenta um portão da casa de cidadão sem mandado, sem ordem judicial, porque ela não é polícia, nem com ordem ela podia, e invade uma casa. Pra mim, merecia um tiro na cara — disse o deputado.
Neste ano, ele se tornou réu por racismo após postar foto de mão branca apertando punho negro com frase: ‘Na minha família não’. A imagem foi veiculada em seu Instagram em abril de 2022 e gerou uma investigação do Ministério Público acatada pela Justiça.
Segundo o Grupo Especializado no Atendimento às Vítimas de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Geacri), o deputado objetivou “demonizar” pessoas gays, colocando-as como “uma ameaça ao modelo heterossexual”, fato que, conforme a polícia, extrapola a liberdade de expressão.
As polêmicas decorrem desde antes de se tornar deputado estadual. Quando tomou posse em 2019, Amauri viralizou nas redes sociais por tomar posse com a mulher sentada no seu colo.
Quando era vereador, partiu para cima de um colega da oposição que tinha deficiência física porque discordou de sua fala, que denunciava funcionários-fantasmas na prefeitura. Em outra ocasião, agrediu um homem numa obra, quando soube que a “peãozada” não estava recebendo.
“Eu danei com ele, que era uma bichona doida. O rapaz veio para meu rumo, eu tomei a enxada e contive ele”, disse, antes de pontuar que sabe técnicas de artes marciais. “Coloquei ele no chão, não dei um tapa. Levaram o cara no corpo de delito e até hoje não sei como que ele está vivo, de tantos machucados que apareceram”, ironizou.
Muitas vezes, ia tomar satisfação pessoalmente na Câmara Municipal, situação que quase sempre terminava com xingamentos e dedos na cara. No meio do mandato de prefeito, bateu em sua filha de 16 anos — que denunciou o caso à polícia — ao flagrar no celular fotos íntimas dela com um namorado, para “garantir os bons costumes”. O caso foi parar em todos os jornais da região.
‘Eu também deveria estar preso’
Na terça-feira, durante discurso na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Ribeiro afirmou que “também deveria estar preso”, por ter ajudado o acampamento.
— A prisão do coronel Franco é um tapa na cara de cada cidadão de bem neste estado. Foi preso sem motivo algum, sem ter feito nada. Eu também deveria estar preso. Eu ajudei a bancar quem estava lá. Mande me prender, eu sou um bandido, eu sou um terrorista, eu sou um canalha, na visão de vocês. Eu ajudei. Eu levei comida, eu levei água, eu dei dinheiro. Eu acampei lá e também fiquei na porta. Porque sou patriota.
Posteriormente, Ribeiro disse que a fala foi distorcida. Nesta sexta-feira, o deputado pediu para o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), negar um “eventual pedido de prisão” que seja apresentado contra ele. Ribeiro reagiu a uma nota do colunista Lauro Jardim, que informou que a Polícia Federal (PF) irá pedir a prisão do parlamentar, por ele ter admitido que ajudou manifestantes golpistas.
Fonte: OGlobo