Política

Ciro Nogueira é visto como pivô de ameaça a Wellington Dias

OUTRO LADO: Ciro Nogueira nega que esteja envolvido nas negociações e diz ser contra indicações de seu partido, o PP, para compor o governo Lula.

A tese de que o ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) e senador Ciro Nogueira (PP-PI) seria o pivô das especulações em torno da troca de comando do Ministério do Desenvolvimento Social passou a ser adotada como a principal linha de defesa —e de resposta— pela pasta comandada por Wellington Dias.

Na avaliação de auxiliares diretos do ministro, o presidente do PP estaria buscando desgastar a imagem de Dias, seu adversário político no Piauí, mais do que faturar um dos maiores orçamentos da Esplanada dos Ministérios.

O resultado das eleições de 2022 estaria no cerne da disputa: o ex-governador do PT elegeu mais correligionários e aliados para a Câmara dos Deputados e para a Assembleia Legislativa do Piauí do que Nogueira, à época um dos mais poderosos ministros do governo Bolsonaro. O saldo é visto como “vexatório” por aliados de Dias.

Embora o Ministério do Desenvolvimento Social tenha um orçamento de R$ 273 bilhões previsto para este ano e uma capilaridade expressiva, já que é responsável por programas sociais que alcançam todo o país, refuta-se, na pasta, a possibilidade de essas serem as reais motivações para a reivindicação do PP.

Auxiliares apontam que, do montante, R$ 271 bilhões têm destinação definida, como ocorre com a fatia do Bolsa Família, que alcança 63% desses recursos, e do Benefício de Prestação Continuada (BPC), com 31% deles. Segundo esse cálculo, restaria ao centrão uma margem de cerca de R$ 1,6 milhão, considerada pouco expressiva, para ser administrada de acordo com suas preferências e redutos eleitorais.

Procurado, Ciro Nogueira nega que esteja envolvido nas negociações ou que tenha a pretensão de atingir Wellington Dias. “Era só o que me faltava”, diz, em mensagem à coluna.

O parlamentar ainda afirma que faz oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e é contrário à aproximação entre o PP e o governo. “Tenho certeza que não vai dar certo. Sou contra qualquer indicação.”

A continuidade das especulações sobre a troca no Desenvolvimento Social, apesar dos acenos públicos feitos pela primeira-dama Rosângela Silva, a Janja, que disse que a pasta é o “coração do governo”, e do próprio Lula têm incomodado e até mesmo gerado indignação no ministério.

A importância dos programas sociais para a trajetória política de Lula é lembrada por aqueles que apostam na permanência do ministro, assim como o capital político acumulado por Wellington Dias ao longo das últimas décadas.

O petista se elegeu quatro vezes governador do Piauí, em primeiro turno, e deu ao seu partido votações expressivas nos pleitos nacionais de 2018 e de 2022, quando o PT foi às urnas contra Jair Bolsonaro.

Interlocutores do ministro ouvidos pela coluna rechaçam a argumentação de que uma suposta insatisfação de Lula com o trabalho de Dias poderia levá-lo a mexer na pasta. E lembram que, em uma pesquisa recente encomendada pelo Palácio do Planalto, o novo Bolsa Família foi o programa mais bem avaliado pelos entrevistados.

Como mostrou a Folha, o presidente tem reclamado que Dias precisa estar mais focado e apresentar mais agendas positivas. Por ser o ministério com uma das principais vitrines do governo, o presidente esperava que a pasta fosse celeiro de anúncios benéficos para a imagem dele, mas não vê isso acontecendo.

Interlocutores do ministro ainda lembram que o Bolsa Família, rebatizado como Auxílio Brasil no governo anterior, foi alvo de inúmeros pagamentos indevidos sob a gestão do centrão. Em maio deste ano, a CGU (Controladoria-Geral da União) identificou R$ 3,89 bilhões em depósitos feitos a pessoas que não atendiam ao perfil de renda.

No Ministério do Desenvolvimento Social, as especulações em torno de uma fragmentação da pasta para contemplar tanto o PT quanto o centrão em uma eventual mudança também são avaliadas como inviáveis.

Diversos programas sociais têm como ponto de partida o CadÚnico (Cadastro Único), o banco de dados para registro e identificação das famílias de baixa renda e que ajuda na criação e implementação de políticas públicas. Desmembrá-lo, afirmam, não seria uma opção —ao menos, neste momento.

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