Humana Saúde suspende atendimento de crianças com autismo em Teresina

Por Elayne Gonçalves – repórter do El Piauí

A vida de crianças e adolescentes diagnosticados com autismo em Teresina ganhou mais um capítulo triste e que deve chamar atenção das autoridades médicas e policial. O Humana Saúde e outros planos suspenderam esta semana o atendimento em diversas clínicas da capital.

Algumas famílias foram surpreendidas pelo plano Humana Saúde nesta terça-feira (16). Através de uma mensagem no WhatsApp, elas foram informadas da suspensão das terapias em uma clínica onde seus filhos autistas, na grande maioria, eram atendidos.

Geane Pereira, mãe de duas pacientes que fazem tratamento na clínica Therapy, relatou ao El Piauí o descontentamento e a revolta em ter as filhas com o tratamento descontinuado.

“Minha filha com autismo segue uma rotina rigorosa, que inclui terapias diárias. A clínica informou que os atendimentos estão suspensos porque a Humana Saúde não está repassando os valores. Procuramos a Humana Saúde e eles disseram que estão negociando com a clínica, mas até agora nada foi resolvido. A interrupção das terapias deixa minhas filhas agitadas e ansiosas, quebrando a rotina delas e causando crises. Nós pagamos caro pelo plano e ainda assim somos prejudicados”, afirmou Geane.

A mãe das crianças – uma diagnosticada com autismo, TDAH e dislexia e a outra com TDAH – expressou ainda sua preocupação com a suspensão definitiva das terapias, temendo que haja regressão no tratamento das filhas.

“Como fica a terapia dessas crianças? Se suspenderem definitivamente e desvincularem a clínica Therapy do plano Humana Saúde, nossos filhos podem regredir e não serão prejudicadas apenas as crianças, mas também as famílias. Queremos uma resposta imediata, que a Humana Saúde faça o pagamento para a clínica continuar com os atendimentos”, finalizou.

O efeito dominó do prejuízo afeta os hospitais privados, reféns dos atrasos nos pagamentos por parte dos planos de saúde, e os danos também se estendem aos profissionais da saúde que atuam neles.

Em áudios obtidos pelo portal, uma profissional afirma que clínicas como a Therapy, Psicomed e Mundo Mágico “pararam” e que diversos colegas estão há um ano e oito meses sem receber. Segundo ela, a situação na Humana Saúde se estende por todo o Brasil, e Teresina “vai terminar como as outras [cidades]”. A profissional ainda completa: “A gente recebeu esse pagamento no início do mês, mas não é referente ao mês passado, o faturamento é de atendimentos que foram feitos há quase três meses. E esses [atendimentos] que estamos fazendo hoje são para os meses de setembro ou outubro, já está glosado.”

“A Humana deixou de repassar valores para a clínica, consequentemente os profissionais não vão receber o valor total dos seus atendimentos. Eles estão alegando superfaturamento, mas, não tem superfaturamento, o que tem são crianças que são atendidas mais de uma vez na semana por necessidade. Crianças que apresentam um prejuízo muito grande no desenvolvimento, dessa forma, apenas uma sessão não seria suficiente”, informou.

Rodrigo Leal, advogado especializado em direito das pessoas com autismo e direito do consumidor, comentou sobre as dificuldades enfrentadas por suas clientes devido aos atrasos nos repasses dos planos de saúde, em especial a Humana Saúde.

“O que está acontecendo com relação aos planos de saúde é que, há um tempo, eles vêm negando atendimentos, principalmente terapias para crianças com autismo. Essas crianças precisam de um tratamento multidisciplinar, envolvendo terapeutas ocupacionais, neurologistas, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, nutricionistas, entre outros”, explicou Leal.

Segundo o advogado, os planos de saúde começaram a negar esses procedimentos diretamente ou informando a falta de vagas nas clínicas credenciadas, colocando as crianças em longas filas de espera. “Diante da urgência do tratamento, muitos pais procuraram a rede privada e acabaram judicializando para que a Humana Saúde e outros planos pagassem pelo tratamento fora da rede credenciada”, acrescentou.

No entanto, as clínicas particulares que atendem esses casos não estão recebendo os repasses devidos pela Humana Saúde, mesmo quando há ordem judicial obrigando o pagamento. “Esses atrasos inviabilizam o funcionamento das clínicas, que têm custos com profissionais, energia, água, materiais e insumos. O tratamento não é barato e a falta de pagamento afeta tanto as clínicas quanto os profissionais e as crianças, que acabam regredindo em seus quadros devido à interrupção das terapias”, afirmou Leal.

Ao mesmo tempo em que a Agência Nacional de Saúde (ANS) anuncia que os planos de saúde tiveram lucros líquidos de R$ 3,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, as reclamações contra as empresas também alcançaram um patamar sem precedentes.

Mobilização
Em postagem nas redes sociais, o movimento Autismo Legal Teresina, que atua há oito anos em prol dos direitos das pessoas com autismo, denunciou o que vem ocorrendo com essas famílias e acionou a Comissão de Direitos da Saúde da OAB/PI para reunião com os representantes da Humana Saúde. Várias famílias estiveram presentes.

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Por outro lado, alguns profissionais também denunciaram que a Unimed Teresina suspendeu alguns atendimentos em clínicas específicas. Por sua vez, a Unimed informou que não deixou de realizar nenhum atendimento aos pacientes e que continua dando assistência. No entanto, realizou a retirada de atendimentos de diversas clínicas, e passou a direcionar os pacientes para a TheAcolher, Tagarela e Cativar.

Comunicado Clínica Therapy:

Comunicado_Therapy._assinado

Outro lado
O El Piauí entrou em contato com a assessoria do plano Humana Saúde, mas não obteve retorno até a publicação dessa matéria. O espaço está aberto através do WhatsApp: 86 99514-2165 e do email: jornalismoelpiaui@gmail.com.

Em nota, a assessoria da Unimed afirmou que não houve cancelamento das terapias mencionadas e afirmou ainda que não houve descredenciamento de clínicas de terapia.

Confira:

unimed-nota_-_caso_de_suposto_cancelamento_de_terapias-1